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“A ideia do impeachment perdeu força, e tenho dúvidas se seria adequada no momento”

© AP Photo / Joedson AlvesA presidenta do Brasil, Dilma Rousseff
A presidenta do Brasil, Dilma Rousseff - Sputnik Brasil
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A Presidenta Dilma Rousseff reuniu governadores de todo o país na quinta-feira, 30, no Palácio do Planalto, para discutir o chamado pacto da governabilidade. Ela frisou ser preciso superar todas as divergências, colocando o bem-estar do Brasil acima de tudo. O economista Roberto Fendt comenta o encontro e o momento político econômico do país.

Diretor-executivo do Cebri – Centro Brasileiro de Relações Internacionais, do Rio de Janeiro, Roberto Fendt falou com exclusividade para a Sputnik Brasil.

Sputnik: Que avaliação o senhor faz desse encontro?

Roberto Fendt: O encontro teve como principal objetivo criar um ambiente de apoio à presidente. Em algumas áreas há uma pressão em torno de se levar ao impeachment da presidente, que está hoje com um nível de popularidade abaixo da popularidade do Presidente Collor na época do seu correspondente processo de impeachment. Ela procurou o apoio de quem poderia estar disponível, e os únicos disponíveis são os governadores. Mas onde houve concordância, nada ficou firme. Por exemplo: houve acordo de que todos os Estados participem de um grupo de trabalho para estudar medidas na área de segurança pública a fim de reduzir os homicídios que estão ocorrendo no país. Ninguém é contra reduzir os homicídios, mas por que não se fazem coisas concretas, se é que é possível? Com relação à contenção de despesas, os governadores publicamente se comprometeram a atuar junto às bancadas de seus Estados no Congresso para evitar que elas votem a favor de projetos que aumentem despesas ou que eventualmente impliquem em desonerar determinadas atividades da incidência de tributos. Em primeiro lugar, não existe um roteiro para que isso aconteça. Em segundo lugar, quem disse que os parlamentares eleitos seguirão a orientação do seu governador? São Paulo tem um governador do PSDB; o Rio de Janeiro tem um governador do PMDB; temos uma variedade grande de governadores de partidos diferentes, e cada Estado tem uma bancada que segue os critérios de proporcionalidade mas não os critérios do partido do governador do Estado. Às vezes acontece de a bancada ser majoritária dos demais partidos que não o do governador.

S: E quanto às outras medidas?

RF: Com relação às outras medidas, considero que a reunião não atingiu o objetivo principal. Os governadores querem usar depósitos judiciais para fazer despesas: pagar precatórios, pagar dívidas, utilizar recursos para investimento. Esses depósitos judiciais estão bloqueados, e isso seria o equivalente a uma emissão: pega-se esse dinheiro, que a rigor não deveria ser usado, pois está aguardando que haja decisão judicial a respeito do que se fazer com ele, e os governadores querem passar a mão no dinheiro para gastar, de olho, evidentemente, nas eleições municipais que já estão no horizonte. Essa “querência” dos governadores pela liberação desses depósitos vai contra o objetivo de se pedir aos deputados de seus Estados que não votem medidas que levem ao aumento de despesas. Isso leva a aumento de despesas. Os governadores querem o aval da União para que os Estados possam tomar empréstimos no exterior e com esses recursos, evidentemente, gastá-los. Eles dizem que vão fazer investimentos. Está certo. Mas dinheiro não tem carimbo. Eles estão querendo tomar dinheiro no exterior para gastá-lo aqui. O aumento da gastança aqui, aumentando o endividamento dos Estados, não é o objetivo que se pretende com o ajuste fiscal. E existem algumas coisas vagas, por exemplo: adotar medidas que levem ao crescimento e à geração de empregos. Isso é muito vago. Não é assim. Tem que dizer o seguinte: nós queremos que haja um programa x, y, z, em que vão se gastar xis reais e que será destinado a empregar 488 mil pessoas que estejam desempregadas. Isto é um programa. Agora, “adotar medidas”… Qualquer coisa que começa no infinitivo é uma mera declaração de intenções. Em geral, de más intenções.

S: Qual é, então, o resultado do encontro?

RF: Tratou-se de um evento de natureza política para reforçar a imagem da presidente. A ideia de promover-se o impeachment perdeu muita força. Acho difícil que isso venha acontecer, e tenho dúvidas se isso seria adequado no momento atual. É como querer trocar o pneu de um carro que está a mais de 100 quilômetros por hora. Todos os problemas que aí estão são herança da gestão anterior da presidente. Tenho dúvidas se alguém está disposto a descascar um abacaxi que não foi criado por um eventual sucessor da presidente.

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