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Efeitos do tráfico: 90% das cédulas de real em circulação no Rio têm traços de cocaína

Efeitos do tráfico: 90% das cédulas de real em circulação no Rio têm traços de cocaína
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Num momento de discussões sobre a legalização das drogas no Brasil, uma pesquisa realizada pela UFF – Universidade Federal Fluminense revelou que cerca de 90% das cédulas de real em circulação no Rio de Janeiro têm presença de cocaína.

Segundo um dos participantes do estudo, o  professor e pesquisador do Departamento de Química Analítica da UFF, Wagner Pacheco, a ideia da pesquisa era repetir no Brasil  estudos que já tinham sido realizados na Europa e nos Estados Unidos. Foi feita a análise de cocaína nas cédulas e montado um painel geográfico de disseminação da droga no Rio.

“Eu tinha observado que não existia estudo similar assim realizado no Brasil”, diz o pesquisador. “Decidimos fazer a coleta de um número grande de amostras para tentar ver o percentual de cocaína presente nessas notas. E acrescentamos a esse estudo tentar ver se a geografia do Rio de Janeiro influenciava o percentual de cocaína, se fazia diferença se a coleta era feita em aeroportos, estádio de futebol, região de mais alto tráfico, na Zona Sul.”

O estudo foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro, e, além do Professor Wagner Pacheco, contou ainda com a parceria do químico Ricardo Cassella. Juntos, eles orientaram a tese de doutorado sobre o assunto elaborada pela pesquisadora Vanessa Gomes Kelly Almeida.

Em comparação com outros países, a pesquisa mostra que há uma grande disseminação da droga no Rio e em mais 10 municípios. Wagner Pacheco explica que a contaminação das notas brasileiras segue o mesmo padrão de disseminação em euros e dólares, e para ele faz parte da realidade atual dos grandes centros do mundo. “Isso está de acordo com o que se observa de outros países. Nos Estados Unidos as notas de dólares são por volta de 85% a 90% contaminadas. Na Europa as notas de euros também têm esse índice de contaminação. Os grandes centros do mundo, todos, estão sofrendo o mesmo tipo de problema.”

Wagner Pacheco ressalta que a quantidade da droga encontrada nas cédulas é bem pequena, e não causa nenhum risco à saúde da população que as manuseia. “A quantidade, em si, é muito pequena, nós estamos falando da ordem de microgramas de cocaína, que é 1 milhão de vezes menor que 1 grama, então é uma quantidade que não faz mal a ninguém, não causa nenhum efeito tóxico ou efeito indesejado. Pensando única e exclusivamente em saúde, isso não significa nada.”

De acordo com os pesquisadores, a existência de traços de cocaína nas cédulas se deve a três motivos, sendo o principal o uso da nota enrolada por traficantes e usuários como canudos para aspirar a droga. “Pelo que nós vimos nos outros trabalhos, são três os mecanismos principais: o primeiro é o usuário enrolar a nota e cheirar; o segundo é um usuário ou traficante com dedos contaminados de cocaína pegar a nota, passando uma quantidade da droga para a nota; e o terceiro são as próprias máquinas de contar dinheiro, quando a nota está numa máquina acaba espalhando o pó e passando para as outras notas.”

Durante o processo de estudo estatístico das cédulas, o professor conta que  também foi verificado em que notas de real se encontram mais resquícios do entorpecente, descobrindo que a mais usada é a nota de dois reais. “Nós observamos que as notas de valores mais baixos são as que têm maior quantidade de cocaína. De cerca de 80 notas de R$ 2,00, quase todas tinham. À medida que ia aumentando o valor, o percentual tendia a diminuir. Em cinco notas de R$ 100,00 analisadas, por exemplo, nenhum percentual de cocaína foi encontrado.”

O Professor Wagner Pacheco conta que a pesquisa teve duas etapas, uma dentro do laboratório e outra nas ruas, onde foram feitas pequenas compras em estabelecimentos do Rio e de mais 11 municípios. No laboratório da UFF foram analisadas138 notas de lugares aleatórios.

Para retirar a cocaína das cédulas os cientistas tiveram que lavar as notas. “Deixava-as imersas, agitando dentro de um frasco contendo uma solução, e ao retirar a cocaína retirava também qualquer outro tipo de impureza que estivesse presente na nota.”

Wagner Pacheco conta que os pesquisadores do laboratório da UFF estão com um novo estudo em andamento, que visa agora a analisar que outras impurezas estão presentes nas amostras de cocaína, para determinar se elas também estão presentes na nota de real. “Como a cocaína é comercializada na rua, ela tem uma grande quantidade de diluentes, que têm o objetivo de aumentar o lucro dos traficantes ao diluir a cocaína. Queremos ver se isso também foi parar nas notas de real.”

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