Ex-Ministro Ernane Galvêas: “Estão tratando a Grécia com muita severidade”

© REUTERS / Alkis Konstantinidis Uma visão geral dos eleitores do 'não à austeridade' que se reuniram para celebrar em frente ao parlamento grego, na Praça Syntagma, em Atenas
Uma visão geral dos eleitores do 'não à austeridade' que se reuniram para celebrar em frente ao parlamento grego, na Praça Syntagma, em Atenas - Sputnik Brasil
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O economista Ernane Galvêas, consultor da Confederação Nacional do Comércio, ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central do Brasil, fala com exclusividade à Sputnik Brasil sobre a situação da Grécia depois do “não” no referendo de domingo.

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O ex-Ministro Galvêas afirma que a resposta do povo grego foi correta, “pois não é a União Europeia que vai decidir o que a Grécia deve fazer”.

A seguir, a entrevista com Ernane Galvêas.

Sputnik: Qual o futuro da Grécia? Depois do “não” do eleitorado grego, o país continuará na Zona do Euro?

Ernane Galvêas: Acho que estão tratando a Grécia com muita severidade. Os credores estão exigindo alguma coisa que ela não pode pagar. Por outro lado, a Grécia abusou, endividou-se demais, assumiu uma dívida que ela não pode pagar. É lógico que ela cometeu grandes erros, mas os bancos cometeram o mesmo erro porque emprestaram um dinheiro que a Grécia não pode pagar, é a maior dívida do mundo em relação ao Produto Nacional Bruto. Vai ser difícil, mas tem que ter paciência com o país. A Grécia é comunista e não agrada aos europeus por isso, por causa do Partido Comunista que detém o Governo. Mas a resposta do povo grego foi correta, pois não é a União Europeia que vai decidir o que a Grécia deve fazer. Tem que esperar que a Grécia tome suas próprias medidas e aceitar que não pode pagar, e, se a Grécia não pode pagar, os credores não vão receber. É aí que está o problema.

S: Hoje o Primeiro-Ministro Alexis Tsipras encaminhou suas novas propostas de negociação para os credores europeus, e o chamado Eurogrupo marcou para a terça-feira, 7, uma nova reunião para debater. Na semana passada os ministros das Finanças da União Europeia já haviam antecipado que, se o “não” fosse vencedor no referendo de domingo, as conclusões em termos de novas negociações com a Grécia ficariam muito dificultadas. 

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EG: Dificultadas em que sentido? No sentido do seguinte: a Grécia não paga o que deve e os credores não recebem o que deviam receber. Tem que ter paciência e continuar negociando, não pode forçar. O ministro das Finanças da Grécia pediu demissão, e é lógico que isso vai dificultar mais ainda as negociações. Mas o problema não é nesse relacionamento político, nesse tipo de negociação. O problema é que a Grécia deve 323 bilhões de dólares para um PIB de 179 bilhões de dólares. Ela deve mais que o dobro da produção nacional, então é muito difícil para a Grécia sair deste buraco.

S: E qual a saída, decretar a moratória?

EG: A saída é a moratória com um desconto. Os credores têm que admitir que emprestaram mal, em excesso, e agora vão receber com desconto. Têm que dar um desconto de 30%, 40%, e dar um prazo para a Grécia poder pagar. Se não fizerem isso, a Grécia não sai do buraco nunca. Um país que tem uma dívida de 180% em relação ao PIB não tem outra solução. É lógico que não vai pagar essa dívida nunca.

 

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