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Entrevista com Jaques Wagner: Brasil é aliado político da Rússia

© Jorge Cardoso/ Ministério da DefesaMinistro da Defesa do Brasil Jaques Wagner
Ministro da Defesa do Brasil Jaques Wagner - Sputnik Brasil
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Em visita a Moscou para participar do Dia da Vitória, o ministro da Defesa do Brasil, Jaques Wagner, falou sobre a aliança entre Brasil e Rússia, cooperação técnico-militar com Moscou, além de comentar a importância das comemorações dos 70 anos da Vitória na Segunda Guerra Mundial.

No último sábado, logo após a realização da Parada Militar, o ministro da Defesa do Brasil, Jaques Wagner, que esteve em Moscou representando a presidenta Dilma Rousseff, concedeu entrevista à Sputnik e às Organizações Globo. O diretor da Sputnik Brasil, Aleksander Medvedovsky, acompanhado do jornalista Konstantin Kuznetsov, encontrou o ministro em um hotel no centro de Moscou, onde foi realizada a entrevista.

A ideia geral dos russos é de que o Brasil é um país aliado. Como o senhor definiria essa relação Brasil-Rússia?

Ministro da Defesa do Braisl, Jaques Wagner, em Moscou no dia 9 de maio de 2015 - Sputnik Brasil
Entrevista: ministro da Defesa, Jaques Wagner, em Moscou, comenta a Parada da Vitória
Ministro Jaques Wagner: o Brasil tem relação com a Rússia no âmbito dos BRICS que é uma política de diplomacia do governo brasileiro muito forte. Então nesse aspecto é uma relação que vem se fortalecendo. Foi criado o Banco de Desenvolvimento dos BRICS na última reunião do grupo. Então é claro que nós somos aliados de Índia, China, África do Sul e da Rússia. Especificamente sobre o conflito da Ucrânia, o Brasil tem uma postura clássica de não querer interferir diretamente e querer sempre se colocar como um mediador desse conflito. Por isso que independente do conflito eu estou aqui representando o governo brasileiro e a Presidenta Dilma. E eu creio que a diplomacia brasileira no que puder se colocar à disposição para que a gente possa ajudar efetivamente, nós vamos. Temos relações com a Ucrânia também. Mas acho que mais um conflito não interessa a ninguém. 

O senhor acha possível um dia ter exercícios militares entre os exércitos de Rússia e Brasil?

JW: Acho. O Brasil não tem nenhum tipo de limitação do ponto de vista de relacionamento. A nossa diplomacia é independente. Em geral nós fazemos operações conjuntas com o “guarda-chuva”, com o “cobertor” institucional da ONU. O Brasil não tem tradição de fazer exercícios conjuntos bilaterais se não forem com essa cobertura da ONU, mas eu não vejo nenhum impedimento que a gente venha a fazer algum exercício conjunto com a Rússia. 

Recentemente a imprensa russa publicou informação dizendo que governo russo está pronto para oferecer a experiência de segurança dos Jogos Olímpicos de Inverno para o Brasil para melhorar ainda mais a segurança dos Jogos Olímpicos. O senhor acha que o Brasil vai precisar desta experiência ou está suficientemente preparado em termos de segurança para as Olimpíadas? 

JW: Eu acho que os últimos episódios de terrorismo que têm acontecido mostram que nenhum país pode se dizer completamente preparado. O episódio que aconteceu na França recentemente mostra que os terroristas estão usando de expedientes e de atitudes absolutamente inimagináveis um tempo atrás, como atacar a redação de um jornal. Então eu acho que ninguém pode dispensar colaboração. Agora, nós fizemos a Copa do Mundo. Evidentemente que a participação da Copa do Mundo é um número muito menor de países, muito menor de turistas e atletas chegando. Mas nós já vivemos uma Copa do Mundo no ano passado com sucesso, a Copa das Confederações também. Mas, na verdade, para a segurança das Olimpíadas, há uma combinação entre o ministério da Justiça, a Polícia Federal, a Força Nacional de Segurança, e o ministério da Defesa, as três forças que garantem a segurança no mar, no espaço aéreo, e a proteção dos equipamentos especiais. A parte interna das Olimpíadas é cuidar da segurança privada, cuja responsabilidade é do próprio Comitê Olímpico Internacional. Agora, eu pessoalmente acho que se existem experiências que podem ser aproveitadas, elas têm que ser aproveitadas. Até porque, eu insisto, o quadro que nós temos ultimamente com a questão do Estado Islâmico e a questão do terrorismo que aparece quando menos se espera, nós temos que trocar muitas informações, e temos que trocar inclusive bancos de dados para poder ter o melhor da prevenção. A gente nunca está isento de uma questão como essa. 

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E a diplomacia pode também ser usada com o chamado Estado Islâmico como foi dito pela Presidenta ou isso foi mal interpretado? 

JW:  Eu nem sei nem se o Estado Islâmico tem uma diplomacia. Ele se autodenomina um Estado, mas não sei que tipo de relação é possível ter, principalmente com pessoas que fazem questão de horrorizar o mundo matando e divulgando depois a filmagem. Então eu pessoalmente acho que quando você tem um Estado constituído, sempre o melhor caminho é buscar a diplomacia, mas eu desconheço qual é a diplomacia do Estado Islâmico.

Quais as perspectivas de cooperação na área técnico-militar entre Brasil e Rússia? 

JW: Já temos uma cooperação, como eu lhe disse, nós fizemos a compra de helicópteros russos, estamos agora no final da preparação do pedido de proposta dos Pantsir, que seria também uma troca nesse sentido. E temos intercâmbio com outros países. Com a França nós estamos construindo um submarino. Com a Suécia nós vamos fazer agora a construção dos caças Gripen. E temos equipamento russo funcionando e reconhecemos inclusive a capacidade que vocês têm na área militar. 

A imprensa brasileira publicou há pouco tempo uma notícia interessante, que a Odebrecht vai começar a produzir componentes para equipamento russo. Essa é uma forma muito nova de relacionamento entre dois países na área técnico-militar. 

Parada de Vitória em Moscou - Sputnik Brasil
Íntegra da Parada de Vitória em Moscou
JW: No Brasil, a nossa política é de querer internalizar a tecnologia em cada compra que a gente faz, mas evidentemente pra internalizar tecnologia não é diretamente o Estado. Por isso, a Embraer foi uma empresa nascida dentro da Aeronáutica, que hoje é uma empresa que caminha com as próprias pernas. É evidente que o governo brasileiro é o grande comprador dos equipamentos da Embraer. Nós devemos estar lançando agora, comercialmente, o Kc-390, que é um avião de transporte de carga e transporte de tropas, que nós temos certeza que vai ter comercialmente um apelo muito grande. E ele está sendo feito com uma empresa brasileira. Então a Odebrecht, que é uma grande empresa brasileira, criou a Odebrecht Defesa, e já está participando da construção do submarino de propulsão nuclear. Então a nossa política é sempre essa. Toda compra que nós queremos fazer, como dos Gripen, os caças suecos, nós queremos com internalização de tecnologia. Quem vai fazer no caso do Gripen é a própria Embraer. 

Voltando à questão da Segunda Guerra e essa semana de celebrações, o senhor é filho de imigrantes judeus poloneses. Essa viagem com certeza é especial para o senhor.

JW: Realmente, porque nós perdemos parentes durante a Segunda Guerra Mundial e todos os judeus, todos os russos, que perderam 25 milhões de pessoas. Os judeus perderam 6 milhões de pessoas. Eu acho que esse episódio, que pra mim é muito recente, na historiografia humana 70 anos não é tanto tempo, tem muitos heróis, muitos veteranos aqui desfilando com suas medalhas, e eu creio que o próprio “comemorar” os 70 anos é sempre um “lembrar” pra que essas coisas não voltem a ocorrer. Por isso eu estou insistindo que cada conflito que aparece, quanto mais a gente puder usar de diplomacia para resolvê-lo, é melhor do que deixar mais uma guerra nascer.

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