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AEB: Parceria Brasil-Rússia na área espacial é bem-vinda

© Estadão Conteúdo / Lisandra ParaguassuBase de Alcântara.
Base de Alcântara. - Sputnik Brasil
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A AEB – Agência Espacial Brasileira não tem em perspectiva, por enquanto, novos projetos que levem mais um brasileiro ao espaço. O primeiro caso de astronauta nacional, o do militar da FAB – Força Aérea Brasileira, Marcos Pontes, que embarcou, em 2006, num voo orbital para a Estação Espacial Internacional, tão cedo não deverá repetir-se.

A informação é do diretor de Política Espacial e Investimentos Estratégicos da AEB, Petrônio Noronha de Souza, entrevistado no âmbito da LAAD – Defence & Security 2015 – Feira Internacional de Defesa e Segurança da América Latina, que se realiza no Rio de Janeiro. “Não vejo essa possibilidade, de outro homem ou mulher ser selecionado para treinamento em outro voo espacial, nem em curto nem em médio prazo”, diz o especialista.

Petrônio Noronha de Souza acredita que o único evento do gênero que está para ocorrer é o do estudante Pedro Nehme, que está sendo apoiado pela AEB nessa fase anterior ao voo, porém não se trata de um projeto financiado pela Agência Espacial Brasileira. “É um apoio mais técnico para que ele converse com pilotos, tenha a oportunidade de visitar centros de estudos, passe informações para os jovens, faça palestras. É um processo em que nós nos beneficiamos da informação, da divulgação, e ele se beneficia também das oportunidades que lhe são abertas.”

Neste mês de abril, Pedro Nehme vai para a Rússia participar de mais uma etapa do treinamento com exercícios de gravidade zero. Depois, escolhido num concurso patrocinado pela companhia holandesa KLM, em que venceu 130 mil concorrentes, Nehme fará um voo suborbital de uma hora na nave Lynx Mark II, da empresa XCOR Space Expeditions.

Na entrevista exclusiva para Sputnik, o diretor de Política Espacial e Investimentos Estratégicos da AEB falou também sobre as possibilidades de Rússia e Brasil realizarem um programa conjunto ou desenvolverem um veículo de lançamento de satélite, levando-se em conta o trágico acidente com o veículo lançador de satélite que explodiu no centro de lançamentos de Alcântara, no Maranhão. 

Desde então, segundo Petrônio Noronha, houve várias iniciativas por parte do Governo russo, através da empresa Roscosmos, em auxiliar o Brasil na reconstrução da base ou ainda em ajudar a desenvolver um satélite lançador em parceria, mas a ideia não se concretizou. Em seguida, no entanto, ocorreu uma parceria do Brasil com a Ucrânia no desenvolvimento do Centro de Lançamento em Alcântara.

Petrônio Noronha de Souza explica que depois do acidente ocorreu um contato entre autoridades brasileiras e russas, com apoio importante por parte de técnicos russos, naquela época, para a revisão do projeto, que continua em atividade. 

Já o acordo com a Ucrânia para o desenvolvimento do Centro de Lançamento e, simultaneamente, do lançador no Projeto Cyclone-4, ocorreu um tempo depois, porém, não eliminou o projeto do VLS – o Veículo Lançador de Satélites. “O VLS continua sendo conduzido como um projeto exclusivamente nacional. Temos a questão quanto a continuidade ou não do acordo com a Ucrânia, e não há no momento negociações em prol de um desenvolvimento comum, de um lançador ou aperfeiçoamento de algum lançador já pré-existente a ser realizado por brasileiros e russos. Não podemos descartar essa possibilidade, até porque a colaboração com os russos não desapareceu totalmente. Nós ainda temos intercâmbio de pessoas, estudantes brasileiros que se deslocam e recebem formação lá na Rússia.”

Petrônio Noronha destaca ainda a parceria que vem ocorrendo com os russos no desenvolvimento das estações do Glonass (Sistema de Navegação Global por Satélite), em que há uma instalação na Universidade de Brasília, e que futuramente pode se desenvolver. “Eu acho que devem ser instaladas estações terrenas para o sistema Glonass. É uma agenda de trabalho conjunta entre acadêmicos e técnicos brasileiros e russos, e eventualmente isso poderá crescer mais adiante. Eu diria que nós veremos, sem que leve muito tempo, algumas modificações no panorama ou no cenário do desenvolvimento de lançadores aqui no Brasil.”

Na visão do diretor de Política Espacial e Investimentos Estratégicos da Agência Espacial Brasileira as parcerias internacionais são bem-vindas. Já existe, por exemplo, o chamado VLM – Veículo Lançador para Micro-Satélites, desenvolvido em colaboração com a Alemanha. Existe ainda um programa de sucesso de lançamento de cargas úteis para microgravidade na Europa, onde a parte experimental é feita pelos alemães e a parte dos propulsores, que é chamada de VSB-30, é um foguete brasileiro.”Não descartamos a colaboração internacional. Eu diria que a possibilidade existe, sim, de algo se materializar com a Rússia, mas no momento nada está sendo negociado – algo ainda a ser construído.”

O especialista comentou ainda sobre um possível interesse do Governo brasileiro num projeto russo, chamado Lançamentos Marítimos, para se fazer uma espécie de cosmódromo, um ponto de lançamento flutuante numa plataforma em alto-mar, aproveitando a extensa costa brasileira, com latitudes bem próximas à linha do equador, o que proporcionaria maior carga útil dos satélites.

Segundo ele, especificamente quanto a esse projeto russo, a Agência Espacial Brasileira não tem informações, porém o Centro de Lançamentos de Alcântara, que fica no litoral, próximo à linha do equador, tem uma posição bastante privilegiada e sem dúvida é uma opção para esse sistema de lançamento marítimo. “Já existe um sistema desenvolvido no passado com a participação de americanos, noruegueses, russos e ucranianos, chamado de Sea Lounge, que operou na costa da Califórnia por muitos anos, mas era uma longa viagem à linha do equador”, diz Petrônio Noronha. “No caso de Alcântara, a linha do equador está ao lado, quase nenhum deslocamento se faz necessário. É uma ideia bastante interessante, mas não é um projeto simples. É um projeto que envolve várias nações, toda a questão de legislação internacional, as questões de segurança, ambientais e comerciais, ou seja, é um enorme desafio. Cabe às nossas autoridades trabalhar para verificar se isso consegue ser materializado ou não.”

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