O que poderia significar a presidência de Hillary para as relações com a Rússia?

© AFP 2023 / ALEXANDER NEMENOVO simbólico botão de "reset" apresentado ao Ministro das Relações Exteriores russo Sergei Lavrov pela ex-secretária de Estado dos EUA Hillary Clinton.
O simbólico botão de reset apresentado ao Ministro das Relações Exteriores russo Sergei Lavrov pela ex-secretária de Estado dos EUA Hillary Clinton. - Sputnik Brasil
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Anunciando o início de sua campanha presidencial no domingo, Hillary Clinton recebeu um endosso não oficial do presidente em exercício um dia antes. Mas o que a aparente favorita na campanha de 2016 para a Casa Branca tem planejado para as relações entre EUA e Rússia? Segundo o analista Ivan Proshkin, não são boas as previsões.

Tratando da possibilidade de uma presidência Clinton em recente artigo para o site PolitRussia.com, o analista Ivan Proshkin notou que a espera da Rússia em "aguardar a saída de Obama" e negociar com quem quer que venha depois seria um ponto aberto à discussão, Clinton deve ser sua sucessora. "Não há nada errado em sonhar", o analista escreve, "mas uma análise do provável resultado da campanha presidencial de 2016 não inspira nenhuma confiança [destas negociações] ocorrerem."

Analisando as chances de Hillary, especialista russos, bem como suas contrapartes norte-americanas, apontam para a experiência política dinástica da candidata, sua substancial influência e seus poderosos apoios políticos e financeiros, assim como a ausência de um adversário republicano dinâmico. Os sinais de recuperação da economia, seguindo a quase uma década de recessão, certamente não prejudicam os democratas, tampouco.

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Então, se a "Dama de Ferro" da política norte-americana já está sendo tratada pelos especialistas como a 45ª presidenta, o que é que os analistas russo vêem de tão ruim em sua possibilidade de governar?

Bem, na visão destes, há a retórica acentuadamente antagônica de Hillary perante a Rússia, seu "comportamento" e seus planos de parceria e cooperação com seus ex-vizinhos soviéticos. Em meio ao golpe de Maidan e a organização da Crimeia de um referendo para se juntar novamente à Rússia ano passado, Hillary comparou Vladimir Putin a Hitler, alegando que as ações do líder russo em meio aos crescentes conflitos em uma Ucrânia pós-golpe foi algo parecido com "o que Hitler fez nos anos 30."

Teimosamente defendendo seu comentário Putin-Hitler como uma chamada para "um pouco de perspectiva histórica", Hillary viria passar a chamar o presidente de "um sujeito duro com pele fina," e um "ex-agente da KGB de sangue frio e calculista", comentários que receberam a aclamação de congressistas republicanos, bem como de especialistas republicanos. Em um discurso de angariação de fundos no outubro passado, Clinton teria afirmado que o presidente russo foi "um valentão" e os EUA devem "se impor para, cercar e… tentar sufocar sua capacidade de ser tão agressivo." A ex-secretária de Estado acrescentou em termos inequívocos, que a agenda da liderança russa "ameaça os interesses americanos", observando que era "um erro" das potências europeias tentar evitar a expansão da guerra de sanções contra a Rússia.

Junto com grandes nomes republicanos e analistas independentes frequentemente comentando a famosa iniciativa de Clinton de "reset da Rússia" como um exemplo do tipo de "liderança ruim" que ela iria mostrar para a Rússia, a ex-secretária de Estado teria repetidamente respondido sempre ter sido cética sobre a possibilidade de uma real melhoria nos laços entre os dois países. Em julho passado, Hillary disse estar "entre os mais céticos em relação a Putin durante o tempo em que eu era [do Departamento de Estado], em parte, porque eu pensei que ele nunca tinha desistido de sua visão de trazer de volta a "Mãe Rússia" para a linha de frente."

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E enquanto a ainda não declarada favorita presidenciável teve que saltar através de obstáculos para os potenciais patrocinadores e eleitores em casa, aqueles "duros com a Rússia", a prova de que Clinton estava falando sério sobre o "reset" não seria realmente tão difícil de encontrar. Já em 2012, quando o caos do pós-Maidan na Ucrânia não era nada mais do que um cenário de pesadelo para os analistas de segurança russos, Hillary fez um discurso em Dublin, onde advertiu contra o que chamou de movimentos russos "para re-sovietizar a região." Clinton admitiu que tais movimentos "não serão assim chamados", afirmando que "serão nomeados de união aduaneira… uma União Euro-asiática algo assim. Mas vamos não nos enganar sobre isso. Nós sabemos quais são os objetivos, e estamos tentando descobrir maneiras eficazes para retardá-los ou impedi-los."

E Clinton teria apoiado suas palavras em ações. Conforme a Russian Insider apontou em artigo do outubro passado, a pasta do Departamento de Estado de Clinton "aumentou continuamente a sua linha anti-Rússia, e empurrou a Ucrânia para escolher entre a Europa e a Rússia, distribuindo 5 milhões dólares para grupos anti-russos da sociedade civil na Ucrânia." O Rússia Insider apontou que o apoiador dos protestos de 2011-2012 Michael McFaul era "homem de Clinton em Moscou", enquanto a então porta-voz do Departamento de Estado Victoria Nuland e o embaixador dos EUA para a Ucrânia Geoffrey Pyatt também serviram como assessores próximos de Clinton para Rússia.

Em um mesmo sentido, em seu artigo para o PolitRussia.com, Proshkin observa que a orientação política de Clinton de isolar a Rússia, formulada durante sua gestão como secretária de Estado, pelo menos um ano antes do oficial esfriamento das relações com a Ucrânia, "nega à Rússia o direito de realizar qualquer tipo de política soberana na ex-União Soviética, uma área que, por uma série de razões (incluindo históricas e culturais) a Rússia considerou como sua área de interesse." Desta forma, "quaisquer processos de integração entre os países da ex-União Soviética, sob a liderança da Rússia serão chamados de "sovietização", "anti-democratização", e outros nomes terríveis."

Proshkin argumenta que através do "estreitamento do campo da política soberana da Rússia para os limites de suas fronteiras", Clinton procura negar à Rússia "o direito a uma política externa independente como tal." O analista independente acredita que "isso significa que, após sua possível vitória em 2016, Clinton tentará não só afastar a Rússia da Ucrânia e da Crimeia, mas também do Cáucaso e da Ásia Central, onde através de Revoluções Laranjas novos regimes (pró-EUA) podem se configurar, servindo para "travar" a Rússia dentro de um cordão sanitário.

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Em última análise, Proskin argumenta que os observadores russos da América estão confiantes de que Hillary deve ser eleita e, ao ser, as relações russo-americanas verão uma "contínua degradação e um movimento para uma fase ainda "quente" da nova Guerra Fria". Com Clinton procurando "colocar a Rússia em seu lugar" e a Rússia continuando suas tentativas de romper com a ordem mundial liderada pelos Estados Unidos, o analista acredita que uma vitória de Hillary irá garantir, pelo menos, mais quatro anos de relações congeladas.

Em 2009, em meio ao muito elogiado e amplamente divulgado, "reset" de relações entre a Rússia e os EUA, com Clinton sorrindo com o chanceler russo, Sergei Lavrov, jornalistas russos notaram um pequeno erro no botão vermelho de reset apresentado como um símbolo para o evento. Em vez de estar escrito "perezagruzka" (reiniciar), "russo" no botão, em letras latinas, realmente se lia "peregruzka" (sobrecarga). Descrito como um erro menor, algo de desajeitado, o significado de tal pequeno erro cresceu de um ponto menor para um abismo cada vez maior. Em retrospectiva, o erro de tradução de um assessor se transformou no prenúncio do que está por vir. Se Clinton for eleita, a "peregruzka" nas relações russas será suscetível de atingir novas dimensões…

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