Rússia propõe colaboração na área da segurança internacional (entrevista)

© AFP 2023 / Sergey VenyavskyExercícios do Exército da Rússia no sul do país
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Nas vésperas da IV Conferência sobre Segurança Internacional em Moscou, a realizar em 16-17 de abril de 2015, a RIA Novosti entrevistou o vice-ministro da Defesa da Rússia Anatoly Antonov.

 Em Abril terá lugar em Moscou a IV Conferência sobre Segurança Internacional. Que questões estão na agenda?

 O Ministério da Defesa da Federação da Rússia organiza esta conferência sobre segurança internacional já pela quarta vez. Os últimos acontecimentos no mundo mostraram que a maioria das atuais ameaças à segurança tem um caráter essencialmente global.

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Não há nenhum país que esteja livre de turbulência político-militar. Nos últimos anos temos observado toda uma série de "revoluções coloridas", a guerra civil na Ucrânia, a intensificação da atividade terrorista, o "florescimento" do chamado Estado Islâmico e muitos outros eventos que obrigam a comunidade mundial a viver em apreensão.

Para fazer frente a tais ameaças é necessária a consolidação de esforços de todos os países e organizações internacionais. Nós convidamos responsáveis e especialistas de 80 países. Mais de 300 delegados já confirmaram a sua presença na conferência. Das delegações, 15 são chefiadas por ministros da Defesa.

Pretendemos ainda discutir o papel da colaboração militar internacional na luta contra o terrorismo, falar com os colegas estrangeiros sobre as perspectivas de desenvolvimento da situação no Afeganistão e as medidas de contraposição ao chamado Estado Islâmico.

Planejamos ainda debater o papel dos instrumentos político-militares na garantia da estabilidade regional e global. A crise na Ucrânia mostrou que a eficácia dos mecanismos existentes na área do controlo de armamentos não é muito alta. Por isso, consideramos necessário e útil trocar opiniões sobre quais as ações mais adequadas em situações de crise, para evitar a escalada dos conflitos.

 Em dezembro de 2014, o presidente Putin assinou a nova redação da Doutrina Militar da Rússia. Quais as maiores ameaças militares que se colocam ante o país?  

 No documento, é feita uma análise detalhada da situação no mundo, são determinados os perigos militares para o nosso país. São precisamente estes fatores que exigiram a introdução de alterações no documento. 

Em primeiro lugar, trata-se da contraposição global. Por um lado, a tentativa dos EUA de manter o mundo tal como está, o desejo de Washington de dominar nas questões internacionais, de impedir o desenvolvimento dos acontecimentos numa direção que não lhe seja favorável. Por outro lado, a não concordância com tal esquema por parte dos adeptos de um modelo de desenvolvimento policêntrico.

A crise na Ucrânia levou ao agravamento das relações com os países europeus. Tudo o que de positivo tinha sido alcançado com a Aliança Atlântica, ruiu por terra. Em vez do desenvolvimento da cooperação e de medidas de confiança, a OTAN iniciou uma linha de confrontação. Hoje, nós vemos um aumento sem precedentes e completamente injustificado da atividade da OTAN perto das fronteiras russas. Ao mesmo tempo, as Forças Armadas da Rússia são acusadas de todos os pecados.  

O novo documento reflecte o propósito da Rússia, para a defesa dos seus interesses nacionais e dos seus aliados, de apenas utilizar medidas militares após todos os outros instrumentos não violentos (legais, económicos, informativos e outros) estarem esgotados. 

Na nova redação da Doutrina Militar surgiu o conceito de "contenção não nuclear",  entendida como um conjunto de medidas de política externa, militares e técnico-militares voltadas para evitar uma agressão contra a Federação da Rússia através de meios não nucleares. 

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Em particular, como medida de contenção estratégica de caráter militar, está prevista a utilização de armas de alta precisão. Este é um aspeto especialmente importante, uma vez que estabelece que nos apoiamos não apenas nas nossas forças nucleares no que toca à utilização das Forças Armadas em caso de agressão contra nós ou contra os nossos aliados. Uma das bases da política militar do nosso país é não permitir um conflito militar nuclear, bem como qualquer outro conflito militar.

De realçar que na nova versão é prestada bastante atenção às questões da colaboração militar na área do reforço da segurança internacional. Estamos falando do reforço do sistema de segurança coletiva da OTSC (N.T. Organização do Tratado de Segurança Coletiva, integra a Arménia, Bielorrússia, Cazaquistão, Quirguistão, Rússia, Uzbequistão e Tajiquistão); aumento da interação no quadro da CEI, da OSCE, OCX, bem como com a República da Abkházia, Ossétia do Sul, Brasil, Índia, China e África do Sul. 

 Tendo em conta a retirada das forças internacionais do Afeganistão, que ameaças para a segurança internacional podemos prever já hoje? Que passos tem dado a Rússia a nível militar para proteger os seus aliados?

 A situação é bastante simples. Os órgãos de segurança afegãos, com o apoio do contingente militar internacional, no geral conseguem controlar a situação no país. No entanto, há indícios que, com a retirada das tropas estrangeiras, a situação se irá complicar. Mantém-se a ameaça da parte do movimento Talibã. 

Um novo fator que futuramente poderá ter influência na situação do Afeganistão é o chamado Estado Islâmico, que atua no Iraque e na Síria.  

Consideramos como contraproducentes as ações dos EUA e da OTAN no sentido de porem fim à colaboração com a Rússia relativamente ao Afeganistão.

Sob o pretexto da situação no Sudeste da Ucrânia, os projetos militares do Conselho Rússia-OTAN foram suspensos. Concretamente, o ministro da Defesa, general Sergei Shoigu, propôs aos responsáveis da OTAN criar na Rússia um centro internacional conjunto de desminagem, no qual os militares afegãos poderiam ser preparados. Nós já criamos tal centro e estamos prontos para interagir com todos os países interessados.

Um futuro desenvolvimento negativo da situação no Afeganistão irá se repercutir na segurança da Rússia e dos nossos aliados do OTSC. É por isso que estamos reforçando, rápida e sistematicamente, o potencial militar dos países do OTSC, em primeiro lugar do Tajiquistão e do Quirguistão.  Para além disso, desenvolvemos ativamente a colaboração em formato bilateral, no quadro da Organização de Cooperação de Xangai, com a China, a Índia, o Paquistão e o Irã, que são jogadores-chave na região. Também damos importância ao estabelecimento de contatos com a nova direção do Afeganistão.

Estamos certos de que a coordenação dos nossos esforços para o futuro desenvolvimento da colaboração regional ajudará o Afeganistão a tornar-se um país pacífico, independente, livre de terrorismo e de tráfico de drogas.

 Depois da formação do chamado Estado Islâmico no território do Iraque  e da Síria, o terrorismo internacional passou a um nível diferente. Como analisa o perigo para a Rússia proveniente desta região? Poderemos contrapor algo a esta ameaça? 

– A criação do EI, um quasi-Estado em parte do território da Síria e do Iraque, exige um novo olhar sobre o problema do terrorismo em geral. Hoje, alguns milhões de pessoas, um terço do território do Iraque e um quarto da Síria, estão sob controlo desta organização terrorista. Ela tem à disposição significativos recursos financeiros. Tudo isto permite-lhe não só manter o território conquistado, como também alargar a sua zona de influência. Vemos hoje "metástases" de terrorismo regional na Líbia e no Mali, há informações sobre a criação de grupos do Estado Islâmico no Afeganistão. 

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Os acontecimentos na França e na Dinamarca, quando combatentes ocidentais regressados da Síria aplicam nos países de origem os "conhecimentos" obtidos, provam a nossa tese: não há terroristas "bons" ou "maus". É perigoso utilizar terroristas para resolver problemas locais, porque eles podem facilmente sair do controlo dos seus "patrões". Sabe-se que o Estado Islâmico foi constituído por combatentes que inicialmente tinham sido preparados e utilizados para lutar contra o governo legítimo da Síria.

Só é possível combater o terrorismo com esforços coletivos. Estamos prontos a interagir com os parceiros europeus, em condição de respeito rigorosos pelas normas internacionais de utilização da força. Os bombardeios do território de países soberanos sem a sua concordância, como acontece hoje na Síria, é inadmissível. Para além disso, é pouco provável que tais ataques produzam o resultado desejado pelos seus iniciadores.

 A "geografia" dos laços militares da Rússia mudou? Em que grau?

 Não obstante a importância da direção europeia, sempre fomos a favor do desenvolvimento de relações com os departamentos militares de todas as regiões do mundo. Temos acordos de colaboração técnico-militar assinados com 78 países.

Temos dado prioridade à cooperação com os parceiros da OTSC, mas também temos aliados tradicionais em várias regiões do mundo. O ministro da Defesa visitou recentemente a América Latina, onde foram discutidas questões da colaboração técnico-militar, prestação de ajuda aos países da região. Antes disso, o ministro tinha ido a vários países da região asiática do Pacífico, ao Oriente Médio, ao Sul da Ásia. 

Um dos seus últimos encontros foi com o ministro da Defesa do Egito. Neste país, decorreu a primeira reunião da Comissão Intergovernamental para a Cooperação Técnico-Militar com o Egito. Os dois ministros debateram as questões de apoio a este país na solução dos problemas prioritários de segurança, nomeadamente na luta contra o terrorismo.

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