Dmitry Kiselev: Um acordo sobre o Irã foi finalmente alcançado e parece que os europeus estão felizes e até gratos à Rússia pela nossa participação positiva. Mas agora, estão dizendo na própria Rússia que tudo vai mal, que o Irã começará a vender gás, que demos um tiro no próprio pé, que não entendemos nada do que está acontecendo e que o país entrará em declínio por conta desses acordos com o Irã. Até que ponto isso é verdade?
Sergei Lavrov: Percebe-se uma lógica estranha, de que para atender aos interesses do desenvolvimento econômico a Rússia precisa manter seus concorrentes sob sanções, ou então que eles sejam bombardeados por alguém, como os EUA queriam fazer com o Irã. Essa, provavelmente, é a posição das pessoas descrentes de que o país pode sair da dependência de petróleo e gás. Tal objetivo, no entanto, foi definido pelo próprio presidente; o governo recebeu todas as instruções necessárias; a tarefa jamais foi cancelada e continua sendo uma prioridade.
Dmitry Kiselev: Estive no Irã em janeiro, e ali meus colegas contavam muito com o levantamento das sanções. Mas, ao mesmo tempo, eles não acreditavam que isso realmente fosse acontecer. Vocês acordaram que o desenvolvimento da energia nuclear iraniana será realizado mediante o controle da Agência Internacional da Energia Atômica (AIEA). A declaração possui itens facilmente verificáveis, mas inclui também itens relativos ao tipo de componentes nucleares, itens que podem ser interpretados de forma bastante arbitrária. Até que ponto as negociações sobre o Irã encontram-se em sua fase final? Será que não teremos delongas com a assinatura do acordo até o dia 30 de junho?
Dmitry Kiselev: Dizem que o acordo desencadeará uma corrida armamentista no Oriente Médio, já que outros países poderão solicitar para si as mesmas garantias, recebendo o direito de desenvolver a energia nuclear e usando-o como disfarce para promover outros projetos…
Dmitry Kiselev: Discutimos a possibilidade de outros países pedirem para si as mesmas condições concedidas ao Irã. Mas, olhando pelo outro lado, poderia a comunidade internacional solicitar para que estas mesmas condições, a mesma transparência, os mesmo recursos de controle fossem aplicados a outros países, como, por exemplo, Israel? Poderia esse acordo servir para a criação de uma zona livre de armas nucleares na região?