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“Há terrível déficit em matemática e português” no ensino brasileiro

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Composição final nas escolas russas - Sputnik Brasil
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O sistema educativo do Brasil é “bastante burguesa e burocrática, de modo que as coisas andam devagar aqui”, diz um professor. Em 2015, é ainda cedo esperar uma mudança positiva, mas há áreas, como as ciências exatas, que precisam de especial atenção. A parceria científica e educativa com a Rússia é algo que pode impulsionar este setor no Brasil.

João Henrique de Lara Ganança, formado em Letras pela Universidade de São Paulo (USP) e professor de língua portuguesa em colégios públicos e particulares de São Paulo, nos contou sobre o presente e as perspectivas da educação no Brasil.

 O Brasil está agora na época de exames. Como você estima os resultados apresentados neste ano letivo?

– Acredito que não haverá grande mudança nos resultados em relação ao que tem sido mostrado nas estatísticas de todos os anos. Alunos de escolas privadas costumam ir melhor nos exames nacionais, ao passo que os da escola pública têm piorado sensivelmente o seu desempenho nos mesmos exames, reflexo da falta de investimentos na educação e da sensível perda do papel da escola como construtora e transmissora de conhecimentos. Em geral, há um terrível déficit em matemática e português, duas áreas centrais para o bom desenvolvimento da sociedade.    

 Na sua opinião, o sistema de exames no Brasil é eficiente?

– Antigamente, os exames vestibulares eram bastante conteudistas, isto é, cobravam basicamente memorização de conteúdos específicos. Atualmente, o ENEM tende a ser menos conteudista e mais reflexivo. Assim, o aluno é levado, em cada teste, a utilizar gama considerável de conhecimentos para resolver questões não raro interdisciplinares. Isso é um ponto positivo e tem sido a tendência dos exames de avaliação da educação. Entretanto, nossa tradição educacional ainda é bastante burguesa e burocrática, de modo que as coisas andam devagar aqui em relação ao que ocorre em países como Noruega, Finlândia etc. 

 A educação brasileira tem boa perspectiva para o ano que vem?

– Acredito que tudo há de permanecer igual. Os colégios particulares continuarão seguindo sua tradição e os públicos continuarão carecendo de investimentos e organização. Não vejo, infelizmente, perspectivas tão positivas a longo prazo. 

 O Planalto quase adotou o déficit orçamentário para este ano. Já para 2015, a CEPAL prevê crescimento econômico abaixo do desejado para a região, inclusive para o país. Isto vai afetar a educação escolar e superior no Brasil?

– Não sou, nem de longe, economismo, mas acredito que quanto pior for o crescimento econômico de um país tanto pior será o desenvolvimento de todas as áreas — saúde, educação, infraestrutura etc. Se carece a educação pública de maiores investimentos, penso que um crescimento menor poderá, inclusive, ser utilizado como desculpa para que escasseiem ainda mais esses investimentos. Contudo, vamos aguardar… 

 Nos anos passados, houve uma série de manifestações e protestos pelo país inteiro, também exigindo maior financiamento da educação e melhores condições nas escolas e universidades. Também existem algumas propostas de reforma universitária. Existe a possibilidade de mais manifestações no futuro próximo?

– Sim. A presidente Dilma já sinalizou, pelos nomes que tem escolhido para comporem o seu futuro quadro de ministros, que fará um segundo mandato com maior controle da economia. Não sabemos exatamente o que tem em mente, entretanto, parece-nos que haverá cortes de gastos a fim de tentar manter a inflação sob controle. Esses cortes podem refletir nas políticas assistencialistas do governo federal e, obviamente, em áreas básicas como saúde e educação. Se assim ocorrer, penso que haverá protestos em breve sim. Em São Paulo, aliás, há também a apreensão em relação à água. Não sei se tem acompanhado, mas estamos sofrendo com o racionamento de água e os especialistas preveem que a situação pode piorar em 2015, gerando protestos. Há ainda o aumento das passagens de ônibus, gasolina e muitos outros fatores como o acirramento da polarização política PT x PSDB. Mas só o tempo dirá o que de fato pode acontecer. 

 O Brasil está participando de um projeto de coordenação de ações conjuntas na área da pesquisa científica e educação com a Rússia no quadro da atuação do grupo BRICS. O que você acha de tal parceria?

– Acho sempre positivas as parcerias, pois penso que todos temos a aprender com todos. É somente no contato e na interação que conseguimos evoluir. A Rússia tem a aprender com o Brasil e o Brasil tem muito a aprender com a Rússia. Espero sinceramente que a parceria gere bons frutos para ambos os países e que as relações entre Brasil e Rússia possam estreitar-se ainda mais. 

 Quais são, a seu ver, as áreas de conhecimento que precisam de mais atenção do ponto de vista acadêmico e de gerenciamento?

– O Brasil apresenta um déficit enorme nas áreas de ciências exatas. Não temos conseguido formar engenheiros, químicos, matemáticos, físicos de qualidade, pois, apesar do crescimento dos cursos de graduação, a qualidade desses caiu muito. Os profissionais de qualidade acabam sempre preferindo trabalhar no exterior, dadas as maiores oportunidades salariais. Além disso, há um estigma entre os brasileiros de que ''matemática é difícil'' e isso acaba sendo passado desde cedo para as crianças na escola, o que as desestimula precocemente a estudar exatas. Penso que é necessário estimular o crescimento do fazer científico no Brasil de modo geral se queremos um país mais desenvolvido, se queremos uma indústria mais forte e competitiva.

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