Crise na Venezuela: especialistas temem um 'cenário Sírio' na América Latina

© AP Photo / Ramon EspinosaHomens da Guarda Nacional da Venezuela marcham pelas ruas de Caracas em comemoração ao Dia da Independência do país, em 5 de julho de 2016
Homens da Guarda Nacional da Venezuela marcham  pelas ruas de Caracas em comemoração ao Dia da Independência do país, em 5 de julho de 2016 - Sputnik Brasil
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Sputnik Brasil conversou com especialistas para entender a atual crise da Venezuela e questionou sobre os possíveis cenários do desenvolvimento da situação no país vizinho.

Para Diego Pautasso, do Colégio Militar de Porto Alegre, essa não é a primeira, nem segunda vez que as forças políticas venezuelanas e externas tentam depor um governo relacionado ao projeto chavista.

Ele lembrou da tentativa de golpe em 2001, da greve dos petroleiros, bem como de várias situações, nas quais o governo se viu forçado a realizar plebicitos.

"Os documentos oficias dos Estados Unidos são abertamente contrários ao, primeiramente o governo Chavez, e agora ao governo Maduro. É nítido que há um cerco por parte das elites tradicionais venezuelanas, quanto dos Estados Unidos, ao regime chavista", disse o professor.

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Isso se reflete em crises institucionais e econômicas o que, somado ao preço baixo do petróleo, colocou o governo de Nicolás Maduro em uma situação difícil.

Ele ressaltou, no entanto, que o governo de Maduro também possui uma grande apoio interno.

"[Governo chavista] foi posto a prova por quase duas dezenas de eleições e ganhou praticamente todas", lembrou ele, para quem o apoio está concentrado nas camadas mais pobres da população, que entendem o projeto chavista e consideram a atual oposição como um retrocesso.

Ele alertou para o perigo e uma guerra civil no país vizinho e condenou a posição do atual governo brasileiro, que reconheceu a presidência autoproclamada do líder da oposição venezuelana, Juan Guaidó.

"Uma posição bastante temerária e precipitada, junto à situação da Venezuela. Em tempos não muito distantes o Brasil foi mediador. Marco Aurélo Garcia, o saudoso executor de um diplomacia muito hábil, conseguiu em vários momentos pacificar e provou o papel de liderança que o Brasil deveria ter. Agora é o contrário. A gente dispara baterias contra vizinhos, um país que foi um dos principais parceiros comerciais nas últimas décadas. Isso me parece muito arriscado e podendo produzir um efeito reverso no Brasil pouco desejável".

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Rafael Araújo, professor de Relações Internacionais da UERJ e especialista em História e Política da Venezuela, por outro lado, chamou a atenção para o fato do país latino-americano, neste momento, contar com dois presidentes reconhecidos por diversos países, o que torna a situação extremamente imprevisível.

Tudo pode acontecer nas próximas horas, tanto uma "guerra civil, quanto o Maduro abrindo mão da presidência, ou ele conduzindo o país para uma nova eleição".

O professor acrescentou que a Venezuela já viveu muitas crises nos últimos 20 anos. No entanto, ele destacou que a "oposição nunca esteve tão forte e com tanto apoio internacional". 

"Difere do que a Venezuela viveu nos últimos 20 anos, mesmo em períodos de grave crise política, que o país viveu, por exemplo, em 2001 e 2004", explicou.

Ele ressaltou, assim como professor Pautasso, que Maduro ainda conta com grande respaldo dentro da Venezuela.

"Ambos os lados tem muita força", acrescentou o especialista, que chamou a atenção para o fato do "Maduro ter o apoio das Forças Armadas". Enquanto Guaidó, por outro lado, "conta com apoio de uma parte considerável da mídia venezuelana e do parlamento".

"Se as forças armadas se mantiverem ao lado de Maduro, acho pouco provável que Maduro caia", acrescentou.

Nesse caso, no entanto, Araújo alertou para o perigo de uma intervenção externa, no mesmo modelo da Síria, da Líbia e do Iraque. Sob este quesito, ele também criticou a posição do Itamaraty.

"Independente de reconhecer o Maduro como presidente legítimo ou não, os venezuelanos deveriam ter autonomia e o apoio internacional para decidirem seu rumo", alertou o Araújo.

A situação atual no Oriente Médio, para ele, "demonstra como é equivocado quando países interferem na política interna de outros países".

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