Na luta pelo fim do câncer de colo de útero, Portugal vai vacinar meninos contra HPV

© André Borges/Agência BrasíliaA vacinação na cidade do Rio de Janeiro começa no dia 27 de março
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A vacina contra o papilomavírus humano, o HPV, vai passar a ser obrigatória em Portugal para meninos a partir dos 10 anos de idade. A medida entra em vigor já no próximo dia 1 de outubro.

Os meninos vão receber duas doses da vacina, com intervalo de seis meses entre uma e outra. De acordo com a Diretora Geral de Saúde, Graça Freitas, quem completou 10 anos em 2019 vai ser "repescado" e vacinado em 2020. Os meninos que porventura não façam a imunização na idade correta ainda vão poder ser vacinados na rede pública até os 18 anos de idade, recebendo três doses, e não duas, caso o ciclo seja iniciado a partir dos 16 anos.

A medida chega para reforçar a luta portuguesa pela eliminação do câncer de colo de útero, "um objetivo para 2030 da Organização Mundial de Saúde", disse Graça Freitas em coletiva de imprensa. O HPV é um dos principais causadores da doença. As meninas já recebem a vacina, também aos 10 anos, desde 2008. "Temos a segunda maior taxa de cobertura do mundo. Entre os 13 e os 27 anos de idade, de 85% a 94% das jovens que residem em Portugal estão vacinadas contra o papilomavírus humano", disse a diretora.

De acordo com a pediatra Mônica de Miranda Baptista, a expansão do público alvo confirma a importância da imunização como medida preventiva. "Já era uma orientação do comitê de infecciologia da Sociedade Portuguesa de Pediatria. O assunto tem sido discutido em congressos e já há algum tempo se recomenda aos meninos. Nossa grande dificuldade em adesão era o preço, já que cada dose custa algo em torno de 145 euros", diz a médica à Sputnik Brasil.

A expectativa da Direção Geral de Saúde é de vacinar anualmente em Portugal 40 mil meninos contra o HPV. 

Cenário no Brasil

No Brasil, a imunização contra o HPV é feita pelo Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2014 para meninas e de 2017 para meninos, mas a recente onda antivacina tem preocupado a categoria médica.

Dados do Ministério da Saúde divulgados pelo jornal o Estado de S.Paulo mostram que, até 2019, apenas 21% do público alvo masculino foram imunizados contra o HPV desde que a vacina entrou no calendário nacional.

"A cobertura vacinal para adolescentes é extremamente importante, porque eles estão iniciando sua vida sexual. Se os homens não adoecem, consequentemente não transmitem. A camisinha protege, mas como as verrugas (um dos sintomas do HPV) se transmitem pelo contato, e essas lesões ficam mais na base do pênis, mesmo usando camisinha ainda tenho o risco de transmissão. Tendo uma boa cobertura, conseguimos garantir uma prevenção até para a parte da população que não toma a vacina", explica à Sputnik Brasil o infectologista Bruno de Melo Tavares.

No último mês de dezembro, a Universidade de São Paulo (USP) apresentou mais um estudo que comprova a eficácia e segurança da vacina contra o HPV. A investigação foi feita depois que o governo do Acre recorreu ao Ministério da Saúde com denúncias de que adolescentes do estado estariam sofrendo graves reações adversas depois de tomarem a vacina.

De acordo a Organização Pan Americana da Saúde (OPAS), que esteve na apresentação do estudo da USP, "não há relação entre as propriedades biológicas da vacina e os sintomas relatados por pacientes do estado, como convulsões, perda de consciência, queda ao solo, e abalos motores generalizados após a vacinação. Segundo o estudo, essas ocorrências são crises psicogênicas (distúrbios no corpo com origem psíquica) causadas pelo estresse do ato de vacinar – não pela vacina", lê-se na divulgação do resultado.

O infectologista Bruno Tavares explica que a vacina pode causar reações leves, "efeitos em uma pequena parcela da população. Para cada um milhão de doses tenho uma reação vacinal desse tipo, mas a população acaba ficando assustada e decide não vacinar".

Rejeitar a vacinação, não apenas contra o HPV, é um processo que vai "na contramão da evidência científica", diz a pediatra Mônica de Miranda Baptista. "Eu tenho 25 anos de formada. Sou de uma época em que não tínhamos vacina contra haemophilus influenzae, pneumococos, eu vi crianças cegas, surdas, sem membros, por infecções por essas bactérias".

Para a médica, educar os pais é fundamental. "No caso do Acre, o governo fez bem em ter estudo comprovativo e divulgar. Agora a decisão de vacinação cabe aos pais. Não se pode obrigar uma criança a se vacinar. Qualquer estado tem a obrigação de se basear em estudos que comprovem a eficácia da imunização e educar a população".

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