Ex-ministro russo esclarece diversas questões polêmicas sobre ação da URSS na Segunda Guerra Mundial

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O ex-ministro russo decidiu esclarecer algumas das questões mais debatidas quanto à Segunda Guerra Mundial, como os motivos que levaram à invasão da Polônia.

Além disso, Sergei Ivanov revelou o motivo que levou Stalin a firmar um acordo com Hitler em 1939, entre outros assuntos.

Ivanov respondeu a estas e outras perguntas em detalhe à Sputnik, onde liderou uma conferência dedicada ao 80º aniversário do início da Segunda Guerra Mundial. Ivanov passou 25 anos nos serviços secretos soviéticos e russos, chefiou o Ministério da Defesa da Rússia de 2001 a 2007 e liderou a Administração Presidencial de 2011 a 2016, sendo agora presidente do conselho da Associação Histórico-Militar da Rússia.

© Sputnik / Nina ZotinaSergei Ivanov, ex-ministro russo
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Sergei Ivanov, ex-ministro russo

Sobre a questão de quem iniciou a Segunda Guerra Mundial, Ivanov qualificou de disparate as acusações contra a União Soviética e Josef Stalin de terem desencadeado um conflito mundial. Segundo Ivanov, essas ideias foram lançadas "deliberadamente" contra Moscou.

"Muitos dizem que precisamos de nos arrepender e pagar, mas isso, é claro, é um completo disparate e arrogância", afirmou Ivanov.

Em resposta aos que acusam Moscou de ter desencadeado a Segunda Guerra Mundial através do tratado de não agressão assinado entre a URSS e a Alemanha em 23 de agosto de 1939, conhecido como Pacto Ribbentrop-Molotov, Ivanov recordou o Acordo de Munique de 1938, quando Londres e Paris entregaram efetivamente a Tchecoslováquia a Hitler, e o Tratado de Versalhes de 1919, humilhante para a Alemanha. Só neste século, sob Angela Merkel, o país conseguiu pagar as reparações correspondentes ao abrigo deste tratado.

O Pacto Molotov–Ribbentrop é fundamental para entender a postura da União Soviética nas vésperas da Segunda Guerra Mundial.

"Se não tivéssemos firmado esse acordo, teríamos enfrentado a agressão [nazista] em 22 junho de 1941 não nas fronteiras traçadas, mas muito mais próximo de Moscou e Leninegrado. Não teríamos conseguido 2-3 meses de resistência heroica do Exército Vermelho, não teríamos sido capazes de evacuar nossas empresas para o leste, não teríamos tido tempo para transferir as divisões siberianas para defender a capital", explicou Ivanov, que é referido pelo presidente Vladimir Putin como seu homem de confiança no livro 'Na Primeira Pessoa'.

O pacto firmado estava plenamente de acordo com "os nossos interesses nacionais", afirmou Ivanov, que acredita que o documento salvou a União Soviética da ameaça de guerra em duas frentes.

© Sputnik / Aleksei DruzhininPresidente da Rússia, Vladimir Putin, saúda os veteranos antes do início da parada militar que se realiza anualmente na Praça Vermelha em comemoração da vitória na Grande Guerra pela Pátria (parte da Segunda Guerra Mundial, compreendida entre 22 de junho de 1941 e 9 de maio de 1945, e limitada às hostilidades entre a União Soviética e a Alemanha nazista e seus aliados)
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Presidente da Rússia, Vladimir Putin, saúda os veteranos antes do início da parada militar que se realiza anualmente na Praça Vermelha em comemoração da vitória na Grande Guerra pela Pátria (parte da Segunda Guerra Mundial, compreendida entre 22 de junho de 1941 e 9 de maio de 1945, e limitada às hostilidades entre a União Soviética e a Alemanha nazista e seus aliados)

Em 1939, a União Soviética estava em guerra com o Japão no Extremo Oriente. Quando o pacto foi assinado, o Japão passou a olhar para o Pacífico, deixando de ser uma ameaça para o Exército Vermelho.

O início da guerra

"Os europeus acreditam que a Segunda Guerra Mundial começou em 1 de setembro de 1939 e terminou em setembro de 1945. A China discorda: milhões de pessoas morreram às mãos das tropas japonesas antes de 1 de setembro de 1939!", explicou Ivanov.

Razões da guerra

"Nos dizem que o povo russo deve se arrepender, admitir a sua culpa e, naturalmente, compensar também os danos. Esqueceram-se do Tratado de Versalhes? Ele colocou a primeira mina na estrutura do pós-guerra da Europa após a Primeira Guerra Mundial, mas a Rússia não participou em Versalhes! E muito menos em Munique!", enfatizou.

Os passos de Hitler

"Em 1934, Hitler considerava o Exército polonês um dos mais fortes da Europa. Em 1935, adotou a lei sobre a organização da Wehrmacht. Isso foi uma violação direta ao Tratado de Versalhes. O passo seguinte de Hitler foi a decisão de desmilitarizar a Renânia [...]".

Consequências de Munique

"O Acordo de Munique de 1938 finalmente desatou as mãos de Hitler, e a Tchecoslováquia foi a primeira vítima. Depois de a ocupar, Hitler obteve um grande potencial econômico. Uma quinta parte das armas da Wehrmacht durante a Segunda Guerra Mundial era produzida na Tchecoslováquia: tanques, munições, carros. E a União Soviética não foi convidada a participar em Munique. A União Soviética propôs por diversas vezes proporcionar assistência militar à Tchecoslováquia, mas a ajuda foi recusada", explicou.

Sobre a Polônia

"Para ajudar os tchecos, precisávamos de caminho para as nossas tropas através do território da Polônia. Varsóvia se negou prontamente. Por isso, oferecemos à Polônia um acordo de proteção. Os poloneses recusaram. Eles demonizaram a URSS. Churchill disse: 'A Polônia, como hiena, participou da divisão da Tchecoslováquia'. Em russo costumamos usar a palavra 'chacal'. De qualquer modo, a Polônia anexou uma parte da Tchecoslováquia no norte, a região de Cieszyn.

Sobre os aliados

"Queríamos formar uma aliança com a França e Inglaterra, mas não funcionou, não por nossa culpa. Perguntamos aos britânicos e franceses onde poderíamos concentrar nosso Exército Vermelho para enfrentar os alemães, e eles responderam: 'Fiquem onde estão'. Porém neste caso, se as tropas alemãs atacassem, o Exército alemão estaria a 40 quilômetros de Minsk e a 60 quilômetros de Leningrado em poucos dias".

A ocupação

"Quando em 17 de setembro de 1939 as tropas soviéticas entraram nas terras polonesas, já não havia ninguém do governo polonês em Varsóvia, o Exército polonês praticamente deixara de existir. Nossas tropas entraram nestes territórios para garantir a segurança da população russa, ucraniana, bielorrussa e judaica. Dos Estados bálticos, muitos fugiram através do oceano e, na década de 1990, os seus descendentes regressaram aos países bálticos e chegaram ao poder [...]."

Sobre o "acordo de ditadores"

"Diz-se muitas vezes que Stalin assinou um acordo com a Alemanha para dividir a Polônia e assumir o controlo dos Estados bálticos. Mas não tínhamos a informação de que Hitler atacaria a Polônia. Não havia tais informações de inteligência. E na Polônia... Há uma boa frase neste pacto: 'No caso de mudanças territoriais na Europa...'. Se tais mudanças tivessem ocorrido, teria havido algumas consequências; se não tivessem ocorrido, teria havido outras.

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