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5G: antes China do que EUA, mas Brasil deve investir em pesquisas, diz analista

© Foto / Marcos Corrêa/Divulgação/Palácio do PlanaltoAudiência com YaoWei, CEO Huawei do Brasil, com o presidente Jair Bolsonaro.
Audiência com YaoWei, CEO Huawei do Brasil, com o presidente Jair Bolsonaro. - Sputnik Brasil
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Assim como foi em 2019, o Brasil e o mundo devem ser marcados por intensos debates sobre o 5G em 2020. Mas por que tanto se fala nessa tecnologia e que implicações ela pode trazer?

Podendo ser até 20 vezes mais rápida do que o 4G, a futura geração de telecomunicação móvel, já em teste em alguns países, deverá possibilitar a realização de tarefas hoje impraticáveis ou demasiadamente lentas nos aparelhos da geração atual. Isso deverá acelerar o transporte de dados e permitirá, entre outras coisas, resoluções de vídeos maiores e a transferência crescente de grandes arquivos pelas redes sem fio. 

​"Trata-se de uma tecnologia de transmissão de dados fundamental para a conectividade geral dos dispositivos que vem sendo chamada de Internet das Coisas (IoT)", afirma o cientista político Sérgio Amadeu da Silveira, uma das maiores autoridades em novas tecnologias do Brasil. "Alguns pesquisadores também afirmam que a tecnologia 5G será decisiva para os carros autômatos que precisarão de alta capacidade de comunicação", acrescenta.

Projetado para usar ondas de alta frequência, ondas milimétricas, o 5G permitirá levar, em menos tempo, uma quantidade muito maior de dados, mas essas ondas terão dificuldade de transpor obstáculos como paredes, além de não viajarem tão longe, explica o especialista em entrevista à Sputnik Brasil.

"Isso exigirá muita energia e mais antenas do que as necessárias para as tecnologias 3G e 4G. Existem uma série de dúvidas sobre o impacto dessas antenas e dessas transmissões em alta frequência para a saúde das pessoas. Esse debate tem sido pouco exposto para a população devido aos ganhos alegados que a tecnologia trará", alerta ele.

Embora promissora, além dos efeitos desconhecidos da implementação em massa dessa nova tecnologia para a saúde, há também outros pontos possivelmente negativos ligados a ela, como o reforço da capacidade de vigilância, motivo pelo qual o 5G vem sendo amplamente analisado não apenas por analistas do setor, mas também por representantes de governos.

"A possibilidade de conexão em altíssima velocidade com datacenters permitirá linkar câmeras e sensores com computadores que operarão algoritmos de machine learning e inteligência artificial. Isso dará mais força aos aparatos de segurança para efetuar a vigilância e a discriminação de populações e trará sérios problemas para as democracias. Precisaremos levar isso em conta", diz Amadeu. 

​As principais possibilidades de funcionamento do 5G têm sido divididas em três ramos principais: banda larga móvel (eMBB), IoT massiva (MIoT) e comunicação de baixa latência com confiabilidade total (URLLC). 

Atualmente, segundo o especialista ouvido pela Sputnik, há uma série de experimentos sendo realizados com o 5G, com algumas cidades já usando a primeira das três fases definidas para a implementação dessa tecnologia, que, dominada principalmente pela chinesa Huawei, já é objeto de disputas políticas envolvendo interesses dos Estados Unidos e da China.

A "guerra tecnológica" entre essas duas potências, de acordo com Silveira, é principalmente "pela liderança dos equipamentos do 5G". Ele argumenta que, assim como os norte-americanos impõem a possibilidade de instalação de backdoors em todos os seus equipamentos de telecomunicação, eles temem que a China faça o mesmo.

"A China está aparentemente na frente na corrida do 5G. A geopolítica mundial terá cada vez mais o peso das corporações tecnológicas. Por isso, os EUA estão tentando bloquear de todas as maneiras a Huawei. O Brasil, que já teve empresas gigantescas de telecom, está fora do páreo. Será comprador de tecnologias. Com a atual gestão de Bolsonaro, nossa distância dos desenvolvedores só aumentará", opina.

O Brasil só deve ser incluído nessa nova geração das telecomunicações em 2021, começando por smartphones e residências. No momento, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) ainda estuda a melhor maneira de disponibilizar essa nova tecnologia, ao mesmo tempo em que o país sofre pressões de Pequim e, principalmente, de Washington, para firmar "parcerias" no setor.

Para Amadeu, levando em consideração as dinâmicas vigentes, é possível que o desafio da inclusão digital no Brasil, ainda menor do que em outros países, leve apenas à ampliação do mercado consumidor para corporações estrangeiras, "sejam norte-americanas, sejam chinesas".

"Inclusão digital deve representar melhoria social e educacional. Temos uma grande população e por isso deveríamos utilizar essa vantagem para aplicar uma estratégia nacional de desenvolvimento tecnológico que beneficie enquanto país, aumente nossos ganhos e redistribua a renda. Mas o 5G está chegando ao Brasil dominado por um governo ideologicamente retrógrado e economicamente neoliberal. Precisamos de um plano de apoio à pesquisa de ponta, de invenção de dispositivos adequados à nossa realidade e de geração de renda com núcleos de tecnologia distribuídos pelas periferias." 

​Dado esse cenário de exclusão dos centros de criação e comercialização dessas novas tecnologias, o especialista acredita que, pelo histórico de cooperação, talvez seja mais interessante para o Brasil apostar em uma parceria com a China do que com os Estados Unidos.

"Talvez, seja mais fácil uma parceria com os chineses para abrir sua tecnologia às nossas necessidades. As corporações norte-americanas preferem o caminho de fidelizar e adular a elite brasileira que bate continência para a bandeira dos EUA e prefere Miami à Amazônia."
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