Opinião: Inteligência americana tenta desestabilizar governos progressistas

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Após quase dois meses da última viagem de Cristina Kirchner a Moscou, vem à tona a notícia de que a presidente da Argentina se encontrou secretamente com o ex-agente da inteligência dos Estados Unidos, Edward Snowden, asilado na Rússia. Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, o especialista Márcio Malta comenta o assunto.

Desde que revelou que o Governo dos EUA espionou cidadãos norte-americanos e de outros países, e alguns governantes em todo o mundo, inclusive a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, o ex-agente de inteligência Edward Snowden está refugiado em Moscou, para não ser preso pelos Estados Unidos, que o acusam de traição por vazar documentos confidenciais.

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Agora está sendo confirmada a notícia de um encontro fora da agenda oficial, em Moscou, entre Cristina Kirchner e Snowden. O encontro secreto foi revelado por um dos advogados do ex-agente, o americano Anthony Romero, que é diretor-executivo da ACLU, sigla em inglês da União Americana pelas Liberdades Civis.

Kirchner e Snowden teriam conversado por cerca de uma hora e meia, e o conteúdo da conversa não foi revelado. O encontro se deu poucos dias depois que a imprensa argentina revelou que o Reino Unido espionou o país, com ajuda da CIA e com o objetivo de monitorar uma suposta possível agressão às Ilhas Malvinas.

Para o pesquisador de Relações Internacionais e professor de Ciências Sociais da UFF – Universidade Federal Fluminense, Márcio Malta, a iniciativa do advogado de Edward Snowden de tirar o encontro do anonimato foi proposital, pois talvez fosse esperado pelo ex-agente que a presidente da Argentina fizesse algum tipo de moção sobre o assunto no sentido de lhe oferecer alguma solidariedade. “Quando o advogado dele vem agora comentar que houve encontro secreto, eu acho que é um pouco no sentido de: ‘Veja, nós esperávamos que isso fosse revelado’. Também chama a atenção que Cristina Kirchner é a primeira chefe de Estado a se encontrar com Snowden. Um chefe de Estado se encontrar com Snowden, e na Rússia, ainda vai render muita polêmica.”

Márcio Malta acredita que, apesar de os EUA terem prometido diminuir o monitoramento, principalmente de pessoas pelo mundo, eles estão indo numa contramão, com as novas denúncias reveladas nesta semana por Snowden, de que desde 2012 a inteligência norte-americana teria aumentado a vigilância sobre o que circula nos Estados Unidos e em outros países, tentando controlar que os governos tenham acesso a dados de empresas e cidadãos norte-americanos. “Além do que já sabíamos da investigação de governos, nós também estamos percebendo que os EUA  detêm cada vez mais o controle, e é fundamental assinalar que este contexto de espionagem e contraespionagem é muito forte em véspera de guerras, por exemplo, nas guerras mundiais. Então, o que a gente tem assistido, sem sombra de dúvidas, é claramente um fortalecimento dessas ações de espionagem do império norte-americano.”

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O especialista em relações internacionais também acha que a revelação – só agora – do encontro com Edward Snowden pode servir para que Cristina Kirchner mostre aos Estados Unidos que está a par de que está sendo vigiada. “Eu acho que sim, é uma carta na manga de Cristina Kirchner, pois, agora que está revelado o encontro com o ex-agente, ela pode vir a público, e não sabemos como vai ser o comportamento da chefe de Estado, que pode dizer que não só sabe da espionagem como pode fazer tratativas nesse sentido.”

Márcio Malta chama a atenção, ainda, de que, apesar do sistema de espionagem dos Estados Unidos ser antigo, a tentativa de controle absoluto através da tecnologia é novo. “O que eu estou chamando de espionagem e contraespionagem é bastante antigo, mas é fundamental compreender como os nossos governos, no mínimo progressistas, vêm sendo muitas das vezes sabotados. Existem moções dos EUA e de outros países, muito claramente, para tentar desestabilizar esses governos, em particular nossas democracias latino-americanas. O sistema é antigo, mas essa tentativa de controle absoluto pelo porte tecnológico em que isso se dá é nova, e é bastante assustadora. Os números são significativos, como os cerca de 4 milhões de cidadãos chineses que foram vasculhados como supostos hackers pelo Governo norte-americano. Até que ponto ainda teremos privacidade? Que ela é quase nula, já sabemos disso, e não é nem um pouco teoria da conspiração Os EUA, com seu grande olho, têm observado absolutamente tudo.”

Nas novas revelações de Edward Snowden, desde 2012 a inteligência norte-americana aumentou a vigilância sobre o que circula na internet entre EUA e outros países, a fim de monitorar possíveis atos terroristas como os de 11 de setembro de 2001 e evitar que outros países tenham acesso a informações de cidadãos e empresas norte-americanos, de forma que seus computadores possam ser violados.

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O professor da UFF alerta que depois de 2011, quando os Estados Unidos monitoraram comunicações da Presidenta Dilma Rousseff e de seus assessores próximos, qualquer um se tornou um alvo. E o que se percebe é que não só empresas, mas cidadãos também, têm tido seus dados vasculhados, assim como governos. “Diante dessas revelações que vieram à tona esta semana, por conta de Edward Snowden, de que os países também estão sendo restringidos na sua autonomia, é importante assinalar que cada vez mais o acesso à informação também faz parte desse jogo político, e as democracias têm direito de se defender desse tipo de ataque norte-americano.”

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