Naufrágio no Mediterrâneo: a tragédia podia ter sido evitada?

© REUTERS / Alessandro BianchiImigrantes esperam assistência em frente à enfermaria do centro de imigração no sul da Itália, ilha de Lampedusa.
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Cerca de 900 pessoas terão morrido no Mediterrâneo quando um barco que as transportava se virou entre as costas da Líbia e a ilha italiana de Lampedusa. Esta é a maior tragédia marítima dos últimos tempos, mas não é um caso isolado.

As avaliações das vítimas mortais de tráfico ao largo da costa da Itália e Líbia parecem subestimadas: cerca de 2.000 pessoas desde o início do ano, e de 3.500 a 4.000 no ano passado.

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O premiê italiano, o Conselho de Segurança da ONU e muitas outras organizações sérias internacionais e políticos têm falado repetidamente sobre a gravidade da situação da imigração nesta zona. Mas na verdade as ações foram contrárias às declarações.

Para resolver o problema dos refugiados na região, a União Europeia reduziu o financiamento em mais de 70%. Segundo o jornal Forbes, em 2015 a UE atribui mensalmente €3 milhões, o que é três vezes menos do que no ano passado. A justificação de tal corte drástico foi a ideia de que a migração se tornará mais perigosa para os próprios refugiados, e eles serão menos dispostos a arriscar suas vidas.

Agora que a tragédia aconteceu e levou as vidas de quase mil pessoas, a União Europeia tem que realizar medidas concretas. A alta representante para Relações Exteriores da União Europeia, Federica Mogherini, declarou sobre a decisão de incluir a questão de imigração na agenda formal da reunião dos chanceleres da União Europeia, que deverá acontecer na segunda-feira (20) em Luxemburgo.

Agora a União Europeia está a pensar em enviar navios de guerra para a costa da Líbia para combater os contrabandistas de petróleo e armas, mas há temores de que tal poderá incentivar mais imigrantes a irem para o mar na esperança de conseguir ser resgatado e levado para a Europa, de acordo com um documento da UE visto pela agência noticiosa Reuters.

Francamente, a UE teme que após eles salvarem mais vidas, as quadrilhas de tráfico poderão enviar mais pessoas para o mar em embarcações sem segurança, diz-se no documento elaborado antes de afogamento em massa de domingo (19), que alertou para o perigo de muito mais migrantes se dirigirem para a Europa.

Um porta-voz da Comissão Europeia não quis comentar. Diplomatas da União Europeia disseram que tal missão era improvável no futuro próximo.

A Líbia está passando por uma aguda crise política devido à incapacidade das autoridades de restaurar a ordem no país.

Ao mesmo tempo mais um naufrágio aconteceu nesta segunda-feira, levando as vidas de pelo menos 20 pessoas.

Dois anos após a revolução de 17 de fevereiro e o término da guerra civil que levou à derrubada e ao assassinato de Muammar Kadhafi, no país continuam a operar combatentes de tropas irregulares, incluindo radicais islâmicos, que não obedecem ao poder central e estabelecem suas próprias leis nos territórios sob seu controle.

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Em entrevista concedida em 15 de dezembro de 2011, o então premiê russo e candidato à presidência do país, Vladimir Putin, acusou os serviços secretos dos Estados Unidos de estarem envolvidos no assassinato de Kadhafi.

Não abordando a questão do envolvimento dos EUA na morte do líder da Líbia, podemos constatar que os líderes ocidentais congratularam-se com a sua morte. O presidente norte-americano, Barack Obama, disse que a morte marcava o fim de um capítulo longo e doloroso para a Líbia, que agora teria a oportunidade de determinar seu próprio destino.

O então presidente da União Europeia, Herman Van Rompuy, declarou que a morte de Kadhafi marcava o fim de uma era do despotismo.

Uma vez que, através dos esforços da Europa e os Estados Unidos, vários Estados da África passaram por crises políticas, sociais e econômicas, os criminosos começaram a traficar cidadãos africanos para a Europa. O ano passado marcou um recorde triste: 170 mil imigrantes atingiram a Itália e, no total, cerca de 250 mil conseguiram chegar à União Europeia.

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