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Esperança de que calor freasse coronavírus no Brasil não se concretizou, diz virologista

© Folhapress / Bruno Rocha /FotoarenaTermômetro marca 39° no viaduto Santa Generosa, zona sul de São Paulo, na tarde desta quarta-feira (07). A cidade voltou à bater recordes de calor nos últimos dias
Termômetro marca 39° no viaduto Santa Generosa, zona sul de São Paulo, na tarde desta quarta-feira (07). A cidade voltou à bater recordes de calor nos últimos dias - Sputnik Brasil
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O calor em setembro bateu recordes históricos, mas não serão as altas temperaturas que diminuirão a intensidade da disseminação da COVID-19 no país, segundo especialistas disseram à Sputnik Brasil. 

Com a onda de calor, que fez, por exemplo, os termômetros em Cuiabá chegarem a 44 ºC no dia 30 de setembro, maior registro na cidade em 100 anos, ressurgiram as teorias de que as altas temperaturas poderiam matar ou dificultar a propagação do coronavírus. 

Em tese, baseado no comportamento de vírus respiratórios ao longo da história, isso até poderia ter ocorrido, apontam os estudiosos. Mas, na prática, o calor típico de grande parte do território brasileiro não conteve a expansão da epidemia. 

"Essa foi uma hipótese que surgiu no início da pandemia, mas que caiu por terra no Brasil e no mundo. A menor transmissibilidade do vírus no calor não se confirmou. Os maiores níveis de contaminação do vírus ocorreram nos locais mais quentes do país, como o Nordeste e cidades como Recife, Fortaleza, São Luís, Rio de Janeiro e Manaus", disse à Sputnik Brasil o virologista Eduardo Flores, professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). 

Calor costuma ser 'nocivo' para vírus respiratórios

Segundo o especialista, o calor realmente é nocivo para vírus respiratórios envelopados, como é o caso do coronavírus, por isso a transmissão da doença poderia ser menor em períodos de altas temperaturas. 

"Essa era uma esperança nossa para o Brasil, que o calor do Norte e do Nordeste pudesse diminuir os níveis de contaminação, mas infelizmente, isso não se concretizou.  Assim como no Hemisfério Norte, onde o verão não diminuiu a transmissão. Uma explicação pode ser a forma de contágio do coronavírus, que se dá por contato direto entre as pessoas", afirmou Flores. 

Segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), divulgados pela revista da Fapesp, o ano de 2019 foi o mais quente já registrado no Brasil, sendo que a média as temperaturas mínimas e máximas vem subindo desde 1961. Ainda não há números consolidados sobre 2020.

As temperaturas mais altas do ano passado foram registradas em cidades do Mato Grosso e Tocantins, no Centro-Oeste. As regiões com as maiores médias, por sua vez, foram o Norte e o Nordeste. No mapa de calor com as médias de temperaturas, as partes mais claras e azuis vêm ficando cada vez menores desde 1961, com um aumento das manchas de cor avermelhada. 

No Norte, a maior parte da região teve média maiores do que 26 ºC, com bolsões de território com temperaturas acima de 30º. Nordeste e Centro-Oeste surgem em seguida, com tons vermelhos e alaranjados, o que representa médias de 22 ºC até mais de 30 ºC. 

Norte tem maior taxa de letalidade

O Sudeste aparece em seguida com as médias de temperaturas mais altas, variando, principalmente, entre 18 ºC e 26 ºC. Somente na região Sul é que existe uma pequena parte do território com tons azuis, onde a média fica entre 16 ºC e 18 ºC, no interior do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina. Além disso, o ano de 2019 foi o segundo mais quente na cidade de São Paulo desde 1943, com média de 27 ºC. 

Ao se comparar esses dados com os números do coronavírus, é possível perceber que o calor, de fato, não diminuiu a disseminação da COVID-19 no país. A segunda maior incidência da doença no Brasil ocorre na região Norte: 3.494 casos por 100.000 habitantes. No total, a região teve 644.125 casos. Em relação aos óbitos, por sua vez, os piores índices estão na região, com 82,6 mortes por 100.000 habitantes (15.216 no total).

A região com a pior incidência da COVID-19 é o Centro-Oeste, com 3795,4 casos por 100.000 habitantes (618.545 no total). A região tem ainda o segundo pior índice de mortalidade, de 81 por 100.000 habitantes (o total de óbitos é de 13.198). 

© AP Photo / Felipe DanaCemitério com sepulturas de vítimas da COVID-19 em Manaus, no Amazonas. A cidade foi uma das mais atingidas pela COVID-19 no Brasil e, após casos diminuírem, segunda onde atingiu a capital amazonense
Esperança de que calor freasse coronavírus no Brasil não se concretizou, diz virologista - Sputnik Brasil
Cemitério com sepulturas de vítimas da COVID-19 em Manaus, no Amazonas. A cidade foi uma das mais atingidas pela COVID-19 no Brasil e, após casos diminuírem, segunda onde atingiu a capital amazonense

A região com o maior número de casos é o Sudeste, com 1.732.228 pessoas infectadas, seguida pelo Nordeste, com 1.361.267. As duas regiões também lideram em mortes, com 66.681 e 39.865, respectivamente. Já os cinco dos estados com maior números de casos e mortes são São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará, Pernambuco e Minas Gerais. 

Onda de calor

Embora ainda não haja dados consolidados sobre as temperaturas em 2020 no Brasil, a meteorologista Josélia Pegorim, do Instituto ClimaTempo, diz que o país vive onda de calor excepcional, que pegou o fim do inverno e continua pela primavera, o que pode elevar a média do ano.

"O inverno foi pouco frio e, desde agosto, com o bloqueio das frentes frias vindas da Argentina por massas de ar seco instaladas no interior do Brasil, e o aumento natural da insolação no Hemisfério Sul com a passagem do ano, houve uma onda de calor histórica, com temperaturas assombrosas", disse a especialista à Sputnik Brasil. 

Nos últimos dias, Nova Maringá, no Mato Grosso, e Água Clara, no Mato Grosso do Sul, registram 46,6 ºC, quase igualando o recorde do país, de 46,7 ºC, ocorrido em 2005, em Bom Jesus do Piauí, no Piauí. Ao mesmo tempo, as curvas do coronavírus descem lentamente no país, mas ainda em patamares considerados elevados. 

Vírus começou a se espalhar no verão

A virologista Giliane Trindade, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), também refuta a tese de que o calor enfraqueça o coronavírus. Ela diz que estudos apontaram essa tendência no início da pandemia, mas a prática mostrou que estavam errados. 

"Artigos científicos mostram que o principal fator propagador da doença é a falta de imunidade da população, o clima quente não tem força para diminuir a transmissão. No futuro, com a estabilização da doença, é que vamos poder verificar seu caráter sazonal, se haverá mais casos no inverno. Agora, com uma doença nova e a população sem imunidade, é muito complicado falar que o calor mata o vírus, é só pensar nos índices de Manaus, por exemplo, e do Rio de Janeiro, onde o vírus começou a se espalhar ainda em fevereiro, com temperaturas de 40 ºC", afirmou à Sputnik Brasil.

No inverno as pessoas se aglomeram mais

O professor da UFSM, por sua vez, explica que o inverno pode ser um fator acelerador da transmissão de doenças contagiosas, mas pelo fato das pessoas se aglomerarem mais

"No inverno, com chuva, as pessoas ficam mais em ambientes fechados e se aglomeram mais. No calor, teoricamente, há uma tendência de se ficar em ambientes abertos, onde há menos transmissão", disse Eduardo Flores.
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