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Nova liberação de agrotóxicos dá opções e acena com mais negócios ao Brasil, dizem analistas

© AP Photo / Gary KazanjianAvião espalha pesticida em uma plantação
Avião espalha pesticida em uma plantação - Sputnik Brasil
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O governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) aprovou na última segunda-feira o registro de mais 51 agrotóxicos para venda e uso no Brasil. Assim, chegam a 290 os defensivos agrícolas liberados em pouco mais de seis meses, em um ritmo recorde que preocupa ambientalistas, mas é elogiado por especialistas em agronegócio.

A Sputnik Brasil ouviu dois analistas do setor agrícola nacional, e ambos aprovaram a medida publicada no Diário Oficial da União. Um dia depois, na terça-feira, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) anunciou um novo marco regulatório de classificação de agrotóxicos, seguindo critérios internacionais.

Para o engenheiro e economista Agostinho Celso Pascalicchio, as medidas adotadas pelo governo Bolsonaro vão permitir o desenvolvimento de outros produtos, cada vez mais adequados à realidade dos produtores brasileiros, e em acordo com os procedimentos já adotados em outros países.

"Isso é uma evolução importante inclusive na área de pesquisa, na qual a correta administração de agrotóxicos pode beneficiar e aumentar a produtividade, e também influenciar sobre o custo final do produto a ser vendido [...]. Este é o caminho e nesse sentido você pode melhorar bastante as receitas com exportação dos produtos brasileiros, é o caminho natural da internacionalização", avaliou.

Além de mais agrotóxicos disponíveis, o mercado brasileiro terá seis classificações – e não mais quatro – acerca dos defensivos agrícolas. Pelo novo método, produtos que hoje são considerados muito tóxicos poderão receber uma classificação mais branda. De acordo com a Anvisa, 1.981 produtos dos 2.201 agrotóxicos registrados no Brasil poderão ser reclassificados.

"Temos hoje principalmente o mercado europeu e esse procedimento de classificação segue exatamente o padrão europeu como um importante mercado para o país, e esse caminho é o natural para o Brasil principalmente na área de produtos agrícolas", explicou Pascalicchio, referindo-se ao Sistema de Classificação Globalmente Unificado (GHS), endossado pela ONU na Rio 92 e adotado pelos países europeus em 2008.

A avaliação é semelhante ao que disse à Sputnik Brasil o especialista em agronegócio José Luiz Tejon, da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP). Segundo ele, liberar mais agrotóxicos e permitir uma nova classificação deles alinhada ao que se faz pelo mundo é algo polêmico e ideológico, porém atende a uma demanda antiga do setor no país.

"O Brasil ficou travado com uma série de solicitações de registros, em um tempo de espera inaceitável para a ciência contemporânea, que inova e inventa coisas a curtíssimo prazo. Muito material genérico foi sim autorizado e essas coisas, assim como no caso dos medicamentos, significam para o produtor rural e para os agrônomos responsáveis pelos receituários uma competitividade de uma série de produtos que podem ser recomendados muito maior do que antes", destacou.

'Jabuticabas' e 'lógica idiota'

Tejon rebateu um dos argumentos mais preponderantes dos ambientalistas, que diz respeito ao fato de que mais agrotóxicos liberados no Brasil significaria mais veneno na mesa das famílias. O analista reforçou que os produtos químicos são apenas a última alternativa em um emaranhado de medidas adotadas na produção de alimentos - apesar disso, 78% dos brasileiros considerar defensivos agrícolas como "inseguros", segundo o Datafolha.

"Uma coisa muito importante que precisamos ressaltar são as práticas conservacionistas, o manejo integrado. Existe muita informação, muita coisa que a ciência já liberou e que em qualquer cidade brasileira você encontra isso, que é o uso correto do manejo integrado de pragas, das práticas fortificação de solo e de sementes", afirmou.

© Foto / Fernando Frazão/ Agência Brasil/ Fotos PúblicasAto da Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida no Rio de Janeiro.
Nova liberação de agrotóxicos dá opções e acena com mais negócios ao Brasil, dizem analistas - Sputnik Brasil
Ato da Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida no Rio de Janeiro.

"Há uma série de assuntos conservacionistas positivos que muitos produtores utilizam e acabam usando os químicos muito mais em momentos em que ocorre de fato uma infestação e exista uma demanda para você atuar, uma vez que o nosso país é tropical e qualquer entulho que você tenha em casa logo vai aparecer um pulgão, ou algum outro ser que precise ser cuidado e tratado", acrescentou.

Ambos os especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil creem que a responsabilidade está muito mais nas mãos de quem usa agrotóxicos e como os usa do que no fato de que novos produtos estejam disponíveis no mercado nacional. Para Pascalicchio, as medidas adotadas pelo governo nesta semana podem ter impacto direto para as exportações brasileiras, reduzindo o que ele chamou de "jabuticabas".

"'Jabuticaba' é uma característica do mercado brasileiro em que somente o mercado brasileiro tem uma classificação e que muitas vezes dificulta até a venda de produtos brasileiros no mercado internacional [...]. Esse padrão e essa busca por internacionalização possibilitam não apenas uma adequação de produtos e commodities brasileiros ao mercado internacional, mas sem dúvida uma inserção muito mais fácil em mercados que o Brasil ainda não entrou e não está presente por consequência da falta de classificação internacional adequada", pontuou.

Já Tejon classificou como "lógica idiota" a ideia de que as medidas do governo Bolsonaro signifiquem um uso maior de agrotóxicos pelos produtores brasileiros. "Não é porque você tem mais remédio de várias marcas e origens à disposição que você vai tomar mais remédio", sentenciou, preferindo focar-se na perspectiva de um aumento da produtividade, algo possível, mas não garantido.

"O aumento da produtividade é um design de uma série de tecnologias, e nós temos no Brasil exemplos muito ricos de organizações tratando até sob um nome – saúde vegetal – [que] não é resultado do uso exclusivo de agrotóxico. Ela é um composto de compreensão do microbioma onde aquele produtor está, a identificação do solo, de fortificação da semente, de proteção à planta por assuntos microbiológicos [...]. Não há nada no Brasil que diga: vamos produzir mais porque vamos ter mais defensivos à disposição", concluiu.

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