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Em meio à crise econômica, aviação comercial brasileira enfrenta céus turbulentos

ENTREVISTA COM DILSON MENEZES E COM HERBERT CLAROS
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Com um índice de desemprego que afeta mais de 11 milhões de brasileiros, inflação elevada, e uma recessão que já dura dois anos, a economia vive um dos seus piores momentos e, com ela, a aviação comercial no país. E a recuperação é cenário ainda distante, segundo especialistas.

A Embraer, maior fabricante de aviões no Brasil, anunciou um Plano de Demissão Voluntária (PDV) e diversas companhias estrangeiras já anunciaram redução de voos e frequências para o Brasil após o fim das Olimpíadas.

Falando em um seminário no Rio, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse que no período de 2015 a 2016 o Brasil vai registrar a pior recessão de sua história desde 1901, quando o Produto Interno Bruto (PIB) começou a ser calculado. Segundo o ministro, o déficit primário deste ano está estimado em R$ 170,5 bilhões e só deve baixar para R$ 139 bilhões no ano que vem. Com arrecadação em queda, despesas crescentes, o governo ainda vive o impasse até o fim do mês quando deve ser julgado o impeachment da presidente Dilma Dousseff no Senado.

Com a recessão, o dólar ainda elevado e queda no número de passageiros, diversas companhias aéreas estrangeiras estão reduzindo voos para o Brasil. É o caso da Korean Airlines, Singapore Airlines, Lufthansa, American, a angolana Taag, a chilena Sky e mesmo a Gol, que ainda este mês vai suspender voos para Barbados e Tobago, no Caribe.

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Veto de Temer a capital total estrangeiro na aviação brasileira causa polêmica no Senado

Um dos especialistas no mercado de aviação comercial no Brasil, Dilson Menezes, diretor da XNG Consultoria e Assessoria em Aviação, diz que o setor aéreo é muito sensível e não apenas em relação ao dólar, que estava em patamar muito alto, que vem se reduzindo nos últimos dias, mas ainda assim permanece bem elevado em relação a seis, sete anos atrás. 

"Querosene, leasing e material aeronáutico estão diretamente relacionados à moeda americana, além do momento econômico que o país vem passando. A aviação está diretamente relacionada ao turismo, muitas viagens de negócios estão sendo substituídas pelas videoconferências para economizar nas passagens aéreas. O setor turístico também é um dos primeiros em que as famílias brasileiras cortam despesas."

Menezes observa que a crise atinge não só as aéreas, mas também de aeroportos onde se fizeram investimentos bilionários, e o número de movimentos vem se reduzindo drasticamente em relação a anos anteriores. Ele não acredita numa reversão desse cenário a curto prazo, mas acredita que a economia do país se estabilize e consiga se recuperar um pouco em meados do ano que vem. 

Quanto à redução de rotas das estrangeiras, o especialista diz que, normalmente, as empresas não têm muito fôlego para esperar uma retomada. Quando percebem que há uma queda muito brusca em relação a um determinado destino, elas começam a cancelar esses voos internacionais. 

"A nossa crise econômica e o dólar muito alto desestimulam as viagens dos brasileiros para o exterior. As aeronaves têm duas mãos: os brasileiros indo e o movimento vindo para cá. Pode haver uma retomada a médio prazo. Não vejo os cancelamentos como definitivos. É uma readequação do mercado, é normal e se faz necessário. É uma avaliação de malha aérea a cada semestre."

Procurada pela Sputnik Brasil, a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) informou que a alta do dólar impactou os gastos das companhias, uma vez que cerca de 60% dessas despesas estão atreladas à moeda americana seja com a compra de combustível, leasing de aeronaves ou compra de equipamentos, acarretando um prejuízo de R$ 10 bilhões nos últimos três anos. A associação observa ainda que a demanda doméstica caiu 6,6% no primeiro semestre deste ano, a oferta de assentos diminuiu 5,9% e o fluxo de passageiros recuou 8% para 43,2 milhões de viagens A queda de 5,9% na demanda doméstica também em junho (último dado disponível) completa uma sequência de 11 meses de recuo, no pior desempenho para o mês desde 2012.

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Brasileiros estão mais satisfeitos, mas aeroportos do país ainda têm problemas

São filiadas à Abear a Gol, Latam, Azul e Avianca, responsáveis por 99% do mercado doméstico brasileiro. Ainda segundo a associação, a Gol liderou a participação no mercado doméstico, com 36,42% do mercado, enquanto a Latam responde por 81,7% dos voos, entre as brasileiras, para o exterior. No transporte internacional, as estrangeiras respondem por 75% dos embarques e desembarques no Brasil.

Os problemas da aviação, porém, não se restringem às companhias aéreas. A maior fabricante de aviões do Brasil, a Embraer, anunciou prejuízo de R$ 337,3 milhões no segundo trimestre e anunciou um PDV para cortar US$ 200 milhões em custos. A notícia pegou metalúrgicos e trabalhadores de surpresa.

Falando à Sputnik Brasil, Herbert Claros da Silva, vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos (SP), admite que os trabalhadores estão apreensivos, não só os da Embraer, como os do Vale do Paraíba.

"Fomos pegos de surpresa. O que nos causou mais preocupação foi que desses R$ 337 milhões, ela registra que US$ 200 milhões teve que reservar para pagar uma possível multa em caso de corrupção de um caso que está sendo investigado nos Estados Unidos."

O caso em questão se refere a um suposto pagamento autorizado pela empresa para facilitar a venda de oito aviões Super Tucanos à República Dominicana. O assunto está sendo investigado pelo Departamento de Justiça dos EUA após investigações feitas pelo Ministério Público Federal do Rio de Janeiro.

"A Embraer, infelizmente, não é uma empresa que tem boa prática sindical. No ano de 2009, em meio aquela crise econômica nos Estados Unidos, ela demitiu mais de 4 mil trabalhadores sem sequer conversar com o sindicato. No dia 19 de fevereiro de 2009, as demissões ocorreram às duas da tarde. Às 10 da manhã, protocolamos uma carta na Embraer pedindo esclarecimentos sobre os boatos de demissão, e as 11 horas houve um comunicado dizendo que era só boato. Se tivesse demissão, ela procuraria o sindicato. Não é possível que uma empresa lucre, explore os trabalhadores e depois faça uma demissão em massa como se isso fosse uma coisa simples."

A Embraer está parecendo agora que mudou de postura. Depois da privatização, essa é o primeiro PDV aberto. Houve PDV quando ela era estatal no começo de 1990. Herbert diz que a Embraer não vive uma crise de produção. 

"Não é igual às montadoras de carros ou algumas fábricas que estão dizendo que não estão vendendo, que a economia brasileira está atrapalhando. A Embraer não depende do mercado brasileiro, os principais clientes são os Estados Unidos e a Europa. A própria carteira de pedidos garante a produção de aviões por dez anos. A principal crítica é que ela está cobrando no PDV US$ 200 milhões. Ela quer economizar com demissão de trabalhadores o mesmo valor para um caso de corrupção. É a velha história: a corda rompe sempre do lado mais fraco."

Desde a terça-feira, 9, a Sputnik Brasil tentou entrar em contato com a assessoria da Embraer, mas não conseguiu qualquer contato.

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