Por que estudo dos peixes pode nos ajudar a salvar Amazônia?

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Pesquisadores opinam que uma elevada diversidade piscícola é sem dúvida um bom indicador da saúde do "pulmão do planeta".

Quando se fala em Amazônia, a primeira coisa que nos ocorre provavelmente serão onças-pintadas, macacos ou araras.

Mas muitos dos segredos desta enorme floresta tropical estão escondidos em suas profundezas aquáticas, nos peixes que nadam em seus rios e lagos.

© AFP 2023 / CHRISTOPHE SIMON  / Acessar o banco de imagensRio Amazonas
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Cientistas do Museu Field de História Natural de Chicago, EUA, investigaram populações de peixes no país sul-americano, Guiana, a antiga Guiana inglesa, e que faz fronteira com o norte do Brasil.

O objetivo do estudo era mostrar por que os corredores aquáticos da enorme bacia fluvial da Amazônia são tão importantes para a conservação do ecossistema.

O estudo, publicado no portal Frontiers in Forests and Global Change, mostra como proteger um pequeno curso de água na Guiana pode ajudar a proteger os rios e a biodiversidade em toda a Amazônia.

Uma das participantes do estudo foi a bióloga brasileira Lesley de Sousa, que refere terem encontrado mais de 450 espécies de peixes em uma área menor do que o estado norte-americano do Connecticut.

"Toda a bacia do Rio Mississipi tem menos de 200 espécies. Estamos [portanto] falando de uma área bastante pequena com [enorme] biodiversidade", referiu a bióloga ao portal Eurekalert.

Neste estudo, Lesley de Souza concentrou o alvo da sua pesquisa nos lagos, rios e riachos da região de Rupununi, situada na Guiana central, nordeste da América do Sul.

"Fizemos várias expedições à região e coletamos peixes em diversos habitats para entender melhor como eles vivem e avaliar o grau de conservação dos habitats", afirmou Lesley.

As coletas de peixe ocorreram em poças de água em rochas, em cavernas, em detritos lenhosos na água, em buracos e troncos ocos, ou seja, "em qualquer lugar que houvesse um peixe", detalhou.

Os cientistas ficaram espantados com a variedade de peixes encontrados

Eles coletaram peixes que pareciam pequenas facas de prata, outros camuflados como folhas mortas.

Encontraram mesmo um pirarucu de três metros de comprimento, peixe que inspira ar na superfície da água fazendo da sua bexiga natatória pulmão, além de respirar debaixo d'água com guelras.

Analisando os habitats, os cientistas concluíram que esta incrível diversidade se deve às especificidades únicas da região de Rupununi.

Quando o nível dos rios sobe na estação das chuvas, dois sistemas fluviais que permanecem separados durante o resto do ano se unem, permitindo que peixes migrem do planalto da Guiana até o coração da Amazônia, adiantou Lesley.

"À medida que a água sobe e desce, o Rupununi age como um batimento cardíaco que bombeia essa incrível diversidade de peixes para todo o lado. Se não o protegermos, esse batimento cardíaco para".

À medida que a água recua com o fim da estação das chuvas, as savanas e os pântanos reemergem e os peixes se separam novamente em seus respectivos sistemas fluviais – até o próximo ciclo, até uma nova estação chuvosa.

© flickr.com / CiforAmazônia (arquivo)
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A proteção dos lagos e rios onde vivem os peixes, é fundamental para o planeta em geral. As florestas que crescem em redor desses cursos de água são cruciais para absorver as emissões de carbono que provocam mudanças climáticas, e a conservação da região de Rupununi trará benefícios a longo prazo para todo o planeta, concluiu a cientista brasileira.

Mas não só. Lesley relembra que "as comunidades indígenas são os principais habitantes desta região, e estão intimamente ligadas à floresta, ao cerrado e às áreas úmidas. A sua principal fonte de proteína é o peixe. Para manter os ciclos reprodutivos dos peixes e a subsistência das pessoas, todo o sistema precisa permanecer intacto".

"As comunidades de peixes são um indicador da saúde da floresta e podem nos dizer coisas que simplesmente não podemos aprender em terra", rematou a doutora Lesley de Sousa.

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