Evo Morales está disposto a voltar para Bolívia, mas não como candidato

© REUTERS / Carlos JassoEvo Morales discursoa após receber medalha de convidado de honra do governo mexicano, em 13 de novembro de 2019
Evo Morales discursoa após receber medalha de convidado de honra do governo mexicano, em 13 de novembro de 2019 - Sputnik Brasil
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O mandatário deposto da Bolívia, Evo Morales, declarou em entrevista na Cidade do México, que estaria disposto a voltar para a Bolívia para pacificar o país, mesmo sem ser candidato à presidência.

Em entrevista ao jornal El País, Evo Morales confirma que estaria disposto a voltar à Bolívia sem ser candidato à presidência.

"Claro, estou disposto a voltar ao meu país e não continuar no poder", assegurou. "Eu renunciei, e a violência segue [...] Até minha renúncia, não havia mortos à bala. Depois, já são quatro ou cinco", lamentou Evo Morales.

Morales insiste que o primeiro passo deve ser o fim da violência, para que "parem de ter mortos e feridos" e atribui a responsabilidade ao "Exército e Polícia Nacional".

"Com um presidente indígena, nunca pensaram no toque de recolher, no estado de sítio. Dão o golpe de Estado para defender os ricos. Usam aviões e helicópteros para amedrontar o povo. Isso é um problema de classes", observou.

O presidente deposto acredita que, no momento, "não há autoridade na Bolívia", e considera que o país está "sob controle militar e policial".

© REUTERS / Carlos Garcia Rawlins Policiais bolivianos empunham a bandeira do país. As forças de segurança são acusadas de não reagir a ataques contra casas de familiares de membros do governo, inclusive contra a irmã de Evo Morales
Evo Morales está disposto a voltar para Bolívia, mas não como candidato - Sputnik Brasil
Policiais bolivianos empunham a bandeira do país. As forças de segurança são acusadas de não reagir a ataques contra casas de familiares de membros do governo, inclusive contra a irmã de Evo Morales

"Faço um pedido para que não usem armas contra o povo. O povo nunca será calado com armas", clamou.

Papel das Forças Armadas

Quando perguntado sobre o motivo que o levou a renunciar, Evo relatou os seus últimos dias na presidência, dizendo que se sentiu "traído" pelo general que pediu a sua renúncia.

"Eu havia falado com as Forças Armadas, me disseram que eles não iriam se movimentar. Depois, pediram a minha renúncia. É mais uma prova do golpe. Evidentemente, me sinto traído [...] Investimos para equipar as Forças Armadas durante todos esses anos, mas não para que se voltem contra a população, e sim para defender o povo", narrou.

Papel da OEA

De acordo com Evo Morales, o processo que levou a sua renúncia começou "no dia 21 de outubro, após as eleições". A contagem de votos apontava vitória de Evo Morales já no primeiro turno. A oposição não reconheceu os dados preliminares e convocou protestos.

A Organização dos Estados Americanos (OEA) apoiou o pleito da oposição e anunciou que havia sinais de fraude no processo eleitoral. Morales questiona a postura da organização, que teria tomado uma decisão política ao defender novas eleições.

"[O secretário-geral da OEA] Luis Almagro espera instruções do governo dos Estados Unidos, pode-se entender assim. Eu tinha certa esperança na OEA", declarou.

O mandatário deposto acredita que o fato de o voto indígena ter definido as eleições presidenciais, dando a vantagem necessária para Evo ganhar as eleições no primeiro turno, teria sido um agravante:

© REUTERS / Marco BelloApoiadores do presidente deposto Evo Morales manifestam nas ruas de La Paz, empunhando a bandeira Wiphala, em 12 de novembro de 2019
Evo Morales está disposto a voltar para Bolívia, mas não como candidato - Sputnik Brasil
Apoiadores do presidente deposto Evo Morales manifestam nas ruas de La Paz, empunhando a bandeira Wiphala, em 12 de novembro de 2019

"A questão de fundo é que não aceitavam o voto indígena. Após o primeiro relatório, o TREP [Transmissão de Resultados Eleitorais Preliminares], eu vencia com 7%, mas faltava o voto rural, o voto indígena. Disse que iríamos ganhar. Recusam o voto indígena, é voltar aos tempos do passado, aos tempos da colônia", explicou Morales.

O que acontecerá agora?

Nesta segunda-feira (11), a segunda vice-presidente do Senado, Jeanine Áñez, representante da oposição, se autoproclamou presidente da República em uma sessão sem quórum legislativo.

De acordo com a constituição boliviana, a presidente do Senado, Adriana Salvatierra, seria a sucessora da presidência, uma vez que o presidente, Evo Morales, e o vice-presidente, Álvaro Garcia, renunciaram.

© AP Photo / Juan KaritaOpositores do presidente da Bolívia, Evo Morales, reagem à sua renúncia, em La Paz, no dia 10 de novembro de 2019
Evo Morales está disposto a voltar para Bolívia, mas não como candidato - Sputnik Brasil
Opositores do presidente da Bolívia, Evo Morales, reagem à sua renúncia, em La Paz, no dia 10 de novembro de 2019

No entanto, nesta terça-feira (12) Salvatierra foi impedida de entrar no Parlamento. Quando perguntado se a presidente do Senado deveria se proclamar presidente do país, Evo explicou:

"A primeira coisa que a Assembleia deve fazer é recusar ou aprovar minha renúncia. Enquanto não o fizer, continuo sendo presidente. Uma vez aprovada, caberia ao vice-presidente, que também renunciou; constitucionalmente, depois vem a presidente do Senado, Adriana Salvatierra. Essa suposta proclamação [de Áñez] é inconstitucional. Com a designação dessa senhora o golpe de Estado se confirma."

Reconhecimento internacional de Áñez

O governo dos EUA reconheceu a senadora opositora Jeanine Áñez como presidente interina da Bolívia. O governo brasileiro também reconheceu a autoproclamação de Jeanine Áñez. O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, declarou que a percepção do Brasil é de que "a Constituição boliviana está sendo respeitada".

© REUTERS / Carlos Garcia RawlinsJeanine Áñez, presidente interina da Bolívia
Evo Morales está disposto a voltar para Bolívia, mas não como candidato - Sputnik Brasil
Jeanine Áñez, presidente interina da Bolívia

Em contrapartida, o governo argentino, liderado pelo adversário político de Kirchner, Maurício Macri, ainda não reconheceu o novo governo boliviano. O chanceler uruguaio, por sua vez, declarou que seu país só reconhece "presidentes que ascendem ao cargo por via de eleições".

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