Argentina foi muito pressionada para declarar Hezbollah como terrorista, dizem especialistas

© REUTERS / Agustin Marcarian25º aniversário do atentado terrorista ao prédio da Associação Mutual Israelita Argentina em Buenos Aires
25º aniversário do atentado terrorista ao prédio da Associação Mutual Israelita Argentina em Buenos Aires - Sputnik Brasil
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O presidente da Argentina, Mauricio Macri, criou um registro de terroristas para poder incluir nele o grupo libanês Hezbollah, acusado do atentado contra a Associação Mutual Israelita Argentina em 1994.

Essa lista foi criada durante a visita do secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, à Argentina e por ocasião do 25º aniversário do atentado de 1994 em Buenos Aires.

Segundo especialistas, na investigação inconclusiva do atentado ao edifício da Associação Mutual Israelita Argentina, em que as acusações têm caráter internacional, todas as pistas levam a obstáculos e pressões, em que estão envolvidos interesses locais e estrangeiros. Deste modo, a inclusão do Hezbolah na lista é uma concessão às exigências dos EUA.

"Passaram 25 anos, mas a influência da geopolítica na investigação do caso AMIA continua mais forte que nunca. Há uma pressão dos EUA para que a Argentina proclame o Hezbollah como terrorista", disse à Sputnik Raúl Kollmann, jornalista e especialista neste atentado, adicionando que o empréstimo de dinheiro à Argentina, que foi um recorde do Fundo Monetário Internacional, também teve um papel muito grande.

Antes de ser incluída na lista criada por Macri no dia 17 de julho, a organização Hezbollah até agora não era considerada terrorista pelas leis da Argentina porque não está incluída na lista relacionada da ONU e não foi objeto de condenações no país.

Investigação sem evidências

O Hezbollah e o governo do Irã foram acusados pelos procuradores e juízes de serem "autores intelectuais e materiais" do atentado. Essas acusações foram baseadas na informação fornecida pelos serviços de inteligência dos EUA e de Israel. Tanto o grupo libanês como o Irã negaram seu envolvimento no atentado.

As principais entidades israelenses locais apoiam essas acusações, embora grupos de familiares das vítimas e partes da comunidade duvidem que seja possível confiar na investigação e acham que há interesses geopolíticos envolvidos no assunto.

Ainda não se sabe tudo sobre os perpetradores e a chamada "conexão local", o que torna suspeitas as conclusões e a criação de um novo registro.

"A investigação nunca pôde descobrir questões elementares como de onde apareceu o explosivo, onde estava a caminhonete [usada como viatura armadilhada], se houve um suicida, que seria, como entrou no país, com que identidade, onde morava. Sabemos pouco ou nada sobre a mão de obra do atentado. Como podemos estar tão certos sobre a conexão internacional?", questiona Kollmann.

"Como não têm ninguém que tenha intervindo no atentado, então eles fazem uma hipótese internacional que se adapta à sua política internacional, não a fatos e evidências concretas", disse Kollmann, que comparou esta investigação com a que aconteceu após o ataque às Torres Gêmeas em 2001 nos EUA, quando a investigação começou com a identificação dos participantes da organização Al Qaeda, que por sua vez reivindicou a responsabilidade pelos ataques.

Após 25 anos de impunidade, o pior ataque à comunidade judaica após o Holocausto continua sem um julgamento confiável. Não há nenhum responsável, a investigação continua parada e as acusações estão mais carregadas com peso político que com evidências.

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