'Provavelmente Vargas seguiria neutro até o fim': por que Brasil afinal entrou na 2ª Guerra Mundial?

© AP PhotoO presidente do Brasil, Getúlio Vargas, ao lado do presidente dos Estados Unidos, Franklin D. Roosevelt, em 1936.
O presidente do Brasil, Getúlio Vargas, ao lado do presidente dos Estados Unidos, Franklin D. Roosevelt, em 1936. - Sputnik Brasil
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Passados 75 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, a Sputnik Brasil produz uma série de reportagens que marcam a tomada de Berlim e a queda da Alemanha nazista.

Apesar da Segunda Guerra Mundial ter iniciado oficialmente no dia 1º de setembro de 1939, quando as forças nazistas invadiram a Polônia, o Brasil só entrou no conflito a partir de 1942.

No início, o posicionamento do então presidente da República, Getúlio Vargas, era de neutralidade. Na época o Brasil tinha uma intensa relação comercial com a Alemanha, chegando ao ponto de, em 1938, o país passar os Estados Unidos e se tornar o principal parceiro comercial brasileiro. Além da parceria econômica, o Brasil e Alemanha possuíam também "afinidades ideológicas", principalmente no que dizia respeito ao "combate ao comunismo internacional".

No entanto, segundo o historiador Dennison de Oliveira, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), após alguns atritos entre Vargas e Hitler e a eclosão do conflito internacional, a parceria alemã na economia brasileira foi perdendo cada vez mais espaço. Getúlio Vargas passou então a negociar com os Estados Unidos e conseguiu fazer com que os norte-americanos ajudassem na criação do que viria ser a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN).

"Provavelmente Vargas seguiria neutro até o fim da guerra, mas acabou cedendo às pressões americanas por contrapartidas, dentre as quais a cessão a partir de junho de 1941 de várias bases navais e aéreas para as forças armadas americanas no nordeste do Brasil, todas de enorme importância estratégica para o desfecho tanto da Batalha do Atlântico contra os submarinos alemães quanto para compor uma linha de abastecimento aéreo ligando os EUA aos fronts de luta na África, Mediterrâneo e Ásia", explicou à Sputnik Brasil.

Inicialmente, a aliança entre Brasil e EUA visava apenas a proteção do nordeste brasileiro de um possível ataque das forças alemãs, que poderiam usar da região para atacar ou bombardear os próprios Estados Unidos, mas com a derrota das forças nazistas no norte da África esse perigo desapareceu. No entanto, um acordo entre os governos brasileiros e norte-americanos fez com que as tropas já reunidas no nordeste do Brasil poderiam continuar sendo equipadas e armadas pelos EUA, desde que fossem empregadas em operações ofensivas em outros locais.

É nesse contexto que, em agosto de 1943, é criada a Força Expedicionária Brasileira (FEB), força militar enviada pelo Brasil à Europa para lutar ao lado dos Aliados, contra o Eixo, na Segunda Guerra Mundial.

O também historiador João Cláudio Pitillo, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), chama atenção também para o fato de que Getúlio Vargas passou a enxergar a importância política do Brasil passar a construir um exército forte e se posicionar internacionalmente no conflito.

"Getúlio precisava de um exército profissional, forte, que desse conta dos problemas internos. Ele também percebeu que se ele não participasse da guerra ele não iria participar do pós-guerra", disse à Sputnik Brasil.

O Brasil então enviou 25 mil militares para combater ao lado dos Aliados na Itália, onde ficaram sob comando do V Exército dos Estados Unidos.

Dennison de Oliveira destaca que, apesar de modesta, a contribuição do Brasil nos combates em que atuou foi importante.

"Originalmente a FEB seria composta de três divisões de infantaria. Contudo, apenas uma divisão foi enviada para a guerra. O front escolhido foi a Itália, onde ficou sob comando do V Exército dos EUA. Foi uma contribuição importante, mas modesta. Quando os primeiros efetivos brasileiros entraram em combate em setembro de 1944 o V Exército enfrentava grave problema de efetivos, sendo oportuno e bem vindo o auxílio brasileiro", disse o historiador, que destacou também a boa impressão que os brasileiros deixaram aos militares norte-americanos.

João Cláudio Pitillo disse que o Brasil "teve um papel importante e decisivo para impedir que os alemães em franco recuo da Itália conseguissem acessar a Alemanha".

"O Brasil é o único país latino-americano a participar do combate no teatro de operações europeu. O México mandou alguns aviadores para o Pacífico e a Colômbia mandou tropas de polícia no final da guerra. O Brasil é o único país aliado a não ter um exército segregado, ingleses e estadunidenses tratavam suas tropas de pele negra como tropas de segunda linha, o Brasil não teve isso. O Brasil é o primeiro país a receber a rendição de uma divisão inteira, devido ao cerco tático que o Exército brasileiro impôs e graças aos duros ataques da aviação brasileira contra as tropas nazistas, que acabaram se rendendo pela incapacidade de romper o cerco brasileiro", explica Pitillo.

A FEB registrou 454 mortes de soldados brasileiros. Os corpos dos militares foram sepultados na Itália, no cemitério de Pistoia.

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