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Globalização, um Deus que falhou: por que mais países têm optado pelo desenvolvimento soberano?

© Ricardo Stuckert / PRDa esquerda para a direita: Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil), Xi Jinping (China), Cyril Ramaphosa (África do Sul), Narendra Modi (Índia), Sergei Lavrov (Rússia), durante cúpula do BRICS em Joanesburgo, África do Sul, 23 de agosto de 2023
Da esquerda para a direita: Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil), Xi Jinping (China), Cyril Ramaphosa (África do Sul), Narendra Modi (Índia), Sergei Lavrov (Rússia), durante cúpula do BRICS em Joanesburgo, África do Sul, 23 de agosto de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 03.11.2023
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A ordem mundial hoje está passando por uma grande transformação. Muitos países estão seguindo a iniciativa da Rússia ao escolher uma política soberana, abandonando assim as falsas promessas da globalização.
Em verdade, já faz bastante tempo, pelo menos desde a década de 1990, que a globalização foi vendida como um processo inevitável para o pleno desenvolvimento da sociedade humana. O problema é que a forma como a globalização se deu, emanada sobretudo das políticas econômicas e culturais expansionistas dos Estados Unidos, baseou-se em regras injustas e que, em última análise, apenas ampliou a desigualdade entre os países.
Como observou certa vez o presidente russo Vladimir Putin, o modelo de globalização liberal capitaneado por americanos e europeus tornou-se apenas uma versão atualizada do neocolonialismo de séculos passados. Na prática, ela promoveu um mundo em que o modelo ocidental (especialmente o americano) de comportamento era o único aceitável, e no qual os direitos de todos os outros povos passaram a ser pisoteados e diminuídos.
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Na década de 1990, no entanto, atores importantes como Rússia, China, Índia, Brasil, Turquia e outros ainda não se encontravam fortes ou confiantes o suficiente para defender um caminho de desenvolvimento alternativo. Por vezes inclusive, estes mesmos Estados falharam em reconhecer a ameaça existente nas políticas de Washington, que começou a utilizar os frutos e os ganhos da globalização para seu próprio benefício.
Contudo, com a chegada dos anos 2000, o cenário se alteraria drasticamente, dado que potências de peso no sistema se mostraram prontas a defender sua soberania diante do unilateralismo americano – sobretudo da era Bush – o que produziu uma verdadeira reviravolta nas relações internacionais do século XXI.
Fora dado então um novo impulso rumo à transição para um modelo de ordem mundial baseado em princípios de respeito mútuo, de ganhos econômicos recíprocos e de parcerias estratégicas para a defesa dos interesses nacionais de um número cada vez maior de países. A própria formação do BRICS em 2009 foi um exemplo nesse sentido, a saber, de uma cooperação internacional construtiva – e heterogênea – entre Estados insatisfeitos com as promessas vazias da globalização.
Hoje, por sua vez, o PIB combinado dos países do BRICS já excede o do G7, respondendo por 31,5% do total mundial, contra 30% das principais potências ocidentais do sistema. Não obstante, durante a última cúpula do grupo na África do Sul, o BRICS expandiu o seu número de membros, ampliando sua cooperação com regiões como o Oriente Médio, o Norte da África e a própria América do Sul. Como se não bastasse, no âmbito de sua integração financeira, o BRICS vem trabalhando para a expansão do uso de moedas nacionais em seu comércio, demolindo aos poucos a preeminência no dólar nas transações econômicas entre seus países.
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A título exemplo, hoje mais de 70% dos pagamentos emitidos entre Moscou e Pequim são feitos em rublos e em yuans, ao passo que as relações comerciais envolvendo Rússia e Índia também estão se movendo no sentido de deixar a zona do dólar. Arábia Saudita e Irã, por sua vez, já se prontificaram a começar a negociar commodities em novas alternativas, tendo fechado importantes acordos com a China nesse sentido ao longo dos últimos meses. Tudo isso se deu justamente pelo descrédito e pelas falsas promessas de prosperidade da globalização baseada nos valores americanos, que ajudaram na verdade a minar a confiança internacional na liderança de Washington.
No mais, até mesmo rotas comerciais tradicionais – passíveis de serem bloqueadas pelos Estados Unidos e seus aliados – vêm perdendo cada vez mais importância, em favor de regiões como a Ásia-Pacífico, sobretudo em função do sustentado crescimento econômico de potências como China e Índia nas últimas décadas.
Testemunhamos então a construção de ambiciosos corredores logísticos em escala continental, como no caso da Nova Rota da Seda encabeçada pela China a partir de 2013, que visa o transporte terrestre de produtos chineses para o Ocidente através do território eurasiático. Não menos importante é a Rota do Mar do Norte, a mais curta a conectar os mercados da Europa e da Ásia, cuja maior parte do trajeto encontra-se sobre controle da Rússia. Finalmente, esforços já têm sido empreendidos para se implementar o promissor Corredor Norte-Sul que permitirá o transporte de mercadorias desde o Ocidente até o oceano Índico através dos territórios da Rússia, do Irã e da própria Índia.
Todos estes fatores demonstram que o mundo não voltará mais a ser o que era, ainda que a elite política e militar estadunidense se esforce para manter sua posição hegemônica no sistema. Fracassaram as tentativas de vender ao mundo um projeto único de desenvolvimento econômico e social.
Hoje, potências não ocidentais e demais países em desenvolvimento optaram por decidir de forma soberana como e por quais parcerias e instrumentos defender seus interesses nacionais. Diferentemente da década de 1990, já não se fala mais sobre a necessidade de se adotar o famigerado Consenso de Washington ou mesmo sobre a necessidade de emular as características políticas, econômicas e culturais dos Estados Unidos.
O zeitgeist da década de 1990 passou, tendo sido não mais do que um período histórico breve e transitório. A globalização, apesar de promissora, mostrou-se pouco efetiva em diminuir a disparidade entre os Estados e em produzir resultados que realmente beneficiassem todos e não apenas um pequeno punhado de países ocidentais. Em resposta, conforme novas potências foram emergindo no sistema durante os anos 2000, a falácia da globalização benigna foi desmascarada em definitivo, ao passo que cada vez mais Estados vêm optando pelo caminho do desenvolvimento soberano.
Hoje, é do interesse da maioria global defender esta ideia, como própria condição de sua existência no mundo multipolar. Rússia, China, Índia, Irã, Turquia e muitos outros no Sul Global já têm dado o exemplo. Afinal, quem quer confiar seu destino a um Deus que falhou?
As opiniões expressas neste artigo podem não coincidir com as da redação.
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